quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Reflexos e provações

Fotografia por Alexandre P., «2 ways»
Vejo reflectido em ti um amor que senti apenas uma vez. Uma vez que parece tão distante...Tão incómoda, desnecessária, desperdiçada. O quanto não dava por a desperdiçar toda em ti... É irónica esta dôr que sinto agora, tão forte, tão sincera, tão triste. Esta dôr que troça de mim. Dói-me muito amar-te, especialmente porque sei que podia - Devia - amar-te muito mais, muito mais completamente. É irónico... Agora sou eu que sou responsável por ti, não é? Agora sou eu que não sei bem o que fazer, porque gosto tanto de ti...

Dói-me pensar como penso - Dói-me ter tão pouco controle no que sinto, ao fim e ao cabo já sabia isso, mas só contigo integrei na realidade essa noção. Uma impotência absoluta.

Não tenho palavras para ti, para mim. De justificação. Bem tento, mas não as encontro. Mas o problema é que... elas existem de facto; Eu é que não tenho a coragem para as dizer.

Talvez um dia, espero que breve, essa coragem chegue a mim como por magia. Porque tudo isto se torna pior a cada dia que passa, por muito que te ame, te queira amar, por muito que me ames e mo tentes provar... Tudo isso cai, desfalecido, aos pés do que sinto (que, apesar de já ser muito, não é nada, comparado com o que não consigo sentir...).

sábado, 18 de novembro de 2006

Poema do Dia - Ausência, por Vinicius de Moraes

Fotografia por Graça, « Feelings In The Emptiness»
"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas

Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada."

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Senta-te aqui

Olá, principezinho. Não me catives... Senta-te aqui, mas não me enchas de promessas vãs. Deixa que adivinhe o que penses, o que sentes, deixa-me sonhar sozinha enquanto olho a noite à nosssa volta, eterna, infindável. Deixa-me divagar pelos meus pensamentos, enquanto tu estás ao meu lado, sem me pegares na mão. Nunca me pegues na mão, principezinho, nunca me ames. Nunca peças um desejo a uma estrela. Se queres ficar, parte. Se queres partir, não venhas. E ficaremos ambos bem. Deixa que possamos sorrir ao ver o sol nascer uma vez mais, os reflexos do sol nos teus cabelos dourados, principezinho, e eu nunca mais consegui ver com o coração. Olho-te mas não te vejo, principezinho. Sei que também tu te vais embora. Então, não olhes para trás. Não voltes. E por favor, não me catives. O que restará de mim se me cativares? Quero tanto cativar-te a ti. Mas não, não posso... Porque sei - Por muito que goste de ti - que já não consigo ficar. Tenho medo de nunca mais conseguir ficar...

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

"Well I Think You're Crazy..."

. . . E o que fará isso de mim? O que fará isso de nós os dois?
Sim, loucos.
Loucos, talvez.
Mas claro que, a questão é... sê-lo-emos suficientemente?
Poderá essa loucura ser o nosso alimento,
A razão da nossa sobrevivência?
(Sempre tão tangente,
Sempre tão constante)
Será que em breve não pediremos um ao outro
Bem mais que o que estaríamos (sim, nós próprios)
dispostos a dar?
Loucos?
Quem sabe?,
Talvez, talvez...

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Quero Amar-te - Autor Desconhecido


"Quero amar-te de todas as formas
Quero amar-te por um segundo,

por um minuto, uma eternidade
Quero amar-te com um simples toque de mãos
Quero amar-te e tocar o teu corpo,

beijar os teus lábios,
sentir o teu respirar,
tal e qual uma bela sinfonia
Quero amar-te da forma mais sublime que possa haver,
tão delicada, tão sonhadora...
Quero amar-te em todas as estações,
em todas as situações, em todos os Invernos e Verões.
Quero amar-te no encontro dos corpos,

lábios,
mãos e pernas
Quero amar-te de uma forma intensa,

verdadeira, ingénua,
que até teria medo do que seria de mim se não pudesse amar-te
Quero amar-te como és, forte, decidido,

dono de si,
dono da situação
Quero amar-te sem pensar no futuro,

sem ter que me preocupar com o amanhã
Quero amar-te sem hora marcada,

sem data expressa,
sem lugar certo
Quero amar-te numa saudade qualquer,

num fogo que queima,
dilacera o meu peito,
faz-me sentir o teu dia e a tua noite,
o teu carinho.
Quero amar-te num momento inesquecível,

ser a constatação do valor que tens,
violar o impenetrável do teu ser
Quero amar-te de uma forma diferente, volúpia,

até certo ponto felina e infantil
Quero não ser uma coisa nova que apareceu no teu destino,
cicatrizar no teu coração e nunca mais sair dele.
Mas eu quero amar-te tanto que só me resta esperar por um milagre,

uma dádiva dos deuses,
que eles sejam complacentes com a minha dor…
Quero amar-te!"

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Intoxicação

Não cales essa pergunta que me queres fazer: intoxicas-me com o teu silêncio... Já te tinha dito? Mais que tudo o resto, odeio o silêncio. Mata-me aos poucos, sem ninguém o perceber. Mesmo eu. Por isso me escondo atrás de notas, pautas, ruídos inconstantes, por isso esta loucura atrás de sons e sensações... Porque o silêncio!, já me deu bem mais do que eu precisava, olhos encovados, sorrisos tristes, lágrimas que apareciam sem pedir, mãos tremelicando com nervos e aflições. Porque houve um dia em que o silêncio me roubou.... Ainda estou à espera que me traga de volta.
Fotografia por Augusto Peixoto, «Forgotten Melodies»

domingo, 15 de outubro de 2006

Poeta do Dia: Bocage

"Razão de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo...
Dizes-me que sossegue, eu peno, eu morro"

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Quando tiveres saudades...

(um pequeno aparte...)
"Quando chorares ao escutar a nossa música,
não te arrependas...
Quando te arrependeres
por não teres escutado tudo o que tinha para te dizer,
não imagines.
Quando nos imaginares juntos novamente,
não acredites.
E quando finalmente acreditares
que o meu amor por ti era assim tão grande,
não voltes...
Eu não saberia perder-te de novo."

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Vem

A tua boca é um dia inteiro. Os teus lábios adoçam-me a alma, a carne. Quedados, os braços, imóveis, ao longo do corpo, lutam contra a absoluta impossibilidade de se conterem. Dia após dia. E dói. (E o sorriso que me pegas converte-se sem querer num esgar de tristeza, quando imagino um futuro tão convictamente soturno quanto o meu será, um dia).
Vem convencer-me com a luz, as estrelas, a lua cheia, vem encher-me de clichés e frases feitas. Vem - Porque preciso mesmo que venhas. Puxa-me as mãos e descola-me os braços do tronco, corre comigo por entre névoas e chapéus de sol e noites de trovoada, e salta e rola comigo por campos verdejantes, seguramente demasiado verdes e alegres.
Vem, nesta noite em que talvez te diga o que o meu coração cerrado nunca quis pronunciar... Nesta em que tudo parece possível, nesta que acabará depressa demais. Vem comigo adorar o silêncio que vai aumentando à nossa volta e nos envolve enquanto, segura, adormeço nos teus braços...
Fotografia por Graça, «Can't Take My Eyes Off You»

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Poema do Dia: Our Love Is Gonna Live Forever

"E se o nosso amor vivesse para sempre, que seria de nós então? Sabes como há no presente uma ânsia de um futuro imperscrutável que nos permite o sonho e a passagem diária das horas. Mas, e se soubéssemos que era para sempre,
que faríamos com ele?
Separar-nos-íamos desde já por sabermos que o sempre nos juntaria novamente?
Cada um para seu lado, então.
(...) É na separação que nos encontramos, meu amor.
Se o nosso amor fosse para sempre,
(...) o nosso amor terminava hoje como nunca."
Jorge Reis-Sá,

(a partir de uma música dos Spain)

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Cedo demais

Sinto-me feliz, contigo. Fazes-me sentir acarinhada, idolatrada até por vezes, a pessoa mais bela do mundo... Tenho medo que me eleves demasiado alto nesse teu pedestal, mas por outro lado!,
Quero-te tanto, de todas as formas!
Quero-te comigo, sempre - Mas encaro de frente a realidade de não te poder ter. De uma maneira calma, saudável.
Quero amar-te desenfreadamente, mas de alguma forma acredito que isso nunca irá suceder - Seremos sempre algo perseguidos pela natureza racional dos nossos instintos - se é que neles existe alguma - nunca levados por eles, sempre com uma réstea vã de lucidez por entre pensamentos aluados.
Até que ponto isso nos é útil? Não sei. Decerto impediu, até agora, o despedaçar inútil de corações tão frágeis como, digamos, o meu, e talvez também o teu, por muito camuflado que o mantenhas nessa couraça impenetrável (cada vez menos, cada vez menos). Mas será que vamos manter para sempre esta tal tranquila descontracção diante da possibilidade de inevitavelmente desmarcar compromissos, ou de partilhar o espaço com mais pessoas para além de nós dois? Eu acho tudo isso cada vez mais difícil, cada vez mais uma loucura crescente, que me impele, que me grita a agarrar-te de encontro a mim, de não te deixar ir embora - quando já se faz tarde e tens de ir, tens de ir sempre tão cedo.
Vais-te sempre cedo demais.
Fotografia de Ricardo Wiese Zacchi, «Flor»

quarta-feira, 6 de setembro de 2006

Poema do dia: Casa


"Se algum dia / por acaso

Eu voltar a rasgar a tua latitude neste planeta
Podes abocanhar-me
Caçar-me com os incisivos / balançar-me na boca

Não aceites as minhas desculpas / de nómada
Nem / acredites quando te disser que tudo o que tenho
Cabe dentro de uma mala

Começa por esconder-me os sapatos

Convence-me a destruir os mapas de viagem
E a engolir âncoras / pedras / uma morada
Com número na porta

Mesmo que o meu desassossego geográfico
(...) agite o metal dos talheres
Não hesites / Leva-me para tua casa

Prova-me que não tenho de apanhar o útlimo comboio da noite
Que incendeia a costa e que me ajuda / a fugir todas as madrugadas

Recebe-me nas zonas sem roupa / do teu corpo

Manobra-me a língua / Usa-me

Quando a tua carne já não precisar de mim
Amarra-me / cuida do meu sono temporário

Obriga-me a dizer-te aquilo que os meus dentes
Sem coração nunca autorizaram:

«Esta noite durmo contigo»." Hugo Gonçalves

terça-feira, 29 de agosto de 2006

Estado de alma: Sem saber explicar

Fazes-me falta. Mas de uma forma estranha, nem sei explicar muito bem qual...
Sinto por vezes um formigueiro na cintura, nas mãos, nos ombros, como se sentisse ainda o teu toque já ausente, como se faltasse ali uma mão tua para me proteger, para eu me sentir totalmente segura.
Só me sinto bem quando estou contigo. Longe de ti, nem em relação a nós estou calma. Tudo me inquieta, tudo me tira o sono, quero dormir e tu não me deixas, e tu dormes algures sem mim. Analiso cada fala, cada comportamento teu à procura de algo que esteja errado.
Dentro de mim trava-se uma luta constante entre o meu pensamento lógico - que não viu até agora nada de errado ou de alarmante em ti, que me dá permissão para sorrir, para descansar, para recomeçar a ser feliz - e entre a minha parte fragilizada, que leva a minha imaginação a sítios que eu nem sabia existir, que me proíbe terminantemente de baixar as defesas por um momento, de relaxar, de encarar a mera possibilidade de... Em suma, do que quer que seja. Qualquer possibilidade, de todo.
Fazes-me tanta falta!, e eu pergunto-me se devia, se devias..... Se talvez não devesse ser fria e distante, por ti, por mim... Infelizmente, sobretudo por mim. Mas dia após dia, vou pensando menos em mim e mais em ti, atrevendo-me por vezes a pensar em nós.
Há algo em mim que sucumbe cada vez mais vezes a esses teus tantos atractivos quase imperceptíveis à primeira vista, ao teu olhar, aos teus abraços fortes, à tua masculinidade :P, a ti que me encantas (tanto!).
Continuo com medo de ti. Mas um medo quase agradável, que desaparece quando estou contigo, mal te vejo à distância. Não quero saber o que é, não quero iludir-me a mim ou a ti - Mas é um facto que estou sempre bem quando estou contigo. Que me fazes querer mais e mais disto que temos vivido, que o tempo pare. Ou que volte para trás, para poder reviver uma e outra vez o que passámos juntos.
Mas não me quero (não me posso) deixar levar por isto tudo que me fazes sentir. Quero ir com calma, com racionalidade, mas será que sou capaz? (Será que quero mesmo?) Ou trata-se apenas de uma questão de segurança? E se eu esquecer a segurança e me lançar, será que me agarras? O problema... É que duvido que consiga algum dia pedir-to... "Agarra-me esta noite..." Talvez, talvez...

domingo, 20 de agosto de 2006

Agora já é tarde

fotografia por Sérgio Rodrigo «para onde me levas»
Agora já é tarde... Agora já não posso voltar atrás. Agora gosto de ti. Agora já é tarde, bem tento mas já não consigo... (Será assim tão errado tentar não gostar de ti? Fazer de conta que não me escuto? Não me quero escutar, não quero saber, não quero confiar em mim. Mas agora não posso mais. Agora já é tarde e as barreiras desfalecem...Fico eu. Exposta. Vulnerável. Não me magoes) Não consigo não gostar assim tanto de ti. Agora já é tarde demais para voltar atrás com as promessas que fiz a mim própria, é tarde e eu ainda acho que é cedo demais. Agora estás na minha cabeça, agora continuo insegura em relação a tudo e todos, especialmente em relação a ti, agora... Sinto a tua falta. Agora (E como sempre) não sei bem o que faço, não sei bem como lidar com tudo isto que sinto, comigo, com a vida, com o que vamos partilhando aos poucos. Mas agora sinto-me bem. Agora já é tarde... E eu sinceramente não quero saber!

domingo, 6 de agosto de 2006

Certezas

E ontem soube! Não sei o quê, mas soube alguma coisa. Sabes, quando falámos sobre certezas? Eu pensei: Não quero certezas. Certezas doem demais. E não quero magoar-me. Não te quero magoar. De uma maneira definitiva fechei a questão «Não quero saber nada», apesar de não to ter dito. Mas quando soube, ontem, apesar de não saber bem o quê, soube-me tão bem!
As certezas são das coisas mais mortíferas que existem. Se eu tiver a certeza que não vou cair, largo a balustrada, abro os braços e beijo o vento que me bate na fronte. E se eu estiver errada caio. E valerá a pena esse momento de felicidade? Já me mostraram que não. Não, devido à dor crescente, ao pânico, à tortuosa tristeza. Mas tu fazes-me acreditar que sim. Fazes-me querer mais e mais esse momento de liberdade cega, em que me abraças e ali ficamos... Agarrados às certezas que vamos construindo...Aos poucos... Pedaço a pedaço...
Só quero apoiar a minha cabeça no teu ombro, aconchegar-me em ti e deixar-me ficar. Assim, naqueles momentos tão próximos da perfeição. E gostava de ter a certeza que haverá uma próxima vez, que tu não desaparecerás sem dizer nada, sem uma palavra, um aviso. Não consigo. Achas que me consegues prometer isso? Será que eu quero que me prometas isso? Acho que já não acredito em promessas... Não, sei que não acredito em promessas. Mas não conseguirei nunca estar plenamente contigo sem tudo isso: Sem certezas, promessas, talvez um dia tivesse sido capaz, mas não agora. Não assim. Não contigo. Vais tendo uma importância crescente na minha vida, em mim. Mas tenho tanto medo! Abraça-me, beija-me a testa e diz-me que está tudo bem... Deixa que me derreta enquanto passas as tuas mãos pelos meus ombros. Deixa que me perca em ti... E por enquanto... (Penso que concordas comigo, por muito que apeteça - Ou não) Não façamos promessas. Dói muito, dói demais. Ajuda-me primeiro a esquecer a dor, ajuda-me a conhecer-te melhor, a gostar cada vez mais (e alarmamente depressa) de ti.
Percorramos esse maldito tempo e a uma determinada altura saberei exactamente o que fazer com a primeira certeza que tive relação a ti, a de ontem. Por enquanto guardo essa certeza aqui, comigo, a primeira amarra a cair, a primeira ferida de muitas a sarar, juntamente com o que senti - senti-me feliz. Sempre que estou contigo, sinto-me verdadeiramente feliz, o que não acontecia há algum tempo. E agora o que faço com esta felicidade? Posso partilhá-la contigo? =)

domingo, 23 de julho de 2006

Agora (ou o mito do "nunca mais")

Achei que eras tu "o tal". Que depois de ti, nunca mais sentiria algo remotamente parecido. Claro que essa ideia deixa alguém entregue ao desespero. Ora, vejamos: Nunca mais sentir. Seja prazer, alegria, amor. O estremecer do beijo desmoronar-se aos poucos, ser apenas um acto banal, até ficar finalmente reduzido a nada. Um acto casual. Um beijo não ser mais que um beijo... Nunca mais.
Hoje sei que as coisas não são bem assim.
Sim, contigo soube que havia algo mais. Que tinha estado certa este tempo todo. Mas não sabia - alguém me ensinou há pouco tempo - que esse "algo mais" existe não apenas numa pessoa, mas em várias. Há quem passe vidas inteiras a fugir dessas pessoas... Por múltiplas razões. Por medo. Isso descobri-o com o tal alguém.
Ainda não sei se fuja ou não. Ainda não sei nada. Mas pretendo descobrir isso aos poucos. Graças também a ti, tenho muito medo. Graças a ti, dou dois passos e recuo um. Também não consigo confiar. Talvez não deva. Não sei. Tudo me diz que sim, mas ainda não estou pronta para atender a voz do coração, porque também tudo me dizia para confiar em ti. Concluí que o problema é não conseguir confiar em mim. Não sei se vou voltar alguma vez a conseguir.
Quero estar envolta nas teias do romance, no acelerar da pulsação, no palpitar inconstante das emoções. Com esse "alguém", que apenas por vezes me faz lembrar, mesmo que remotamente, a tua pessoa. Alguém de quem eu consiga gostar e que me marque ainda mais que tu. Que seja muito mais que tu alguma vez serias capaz de ser. Mereço isso.
Odeio-te profundamente e dou por mim a desejar que sejas absolutamente infeliz. Que nunca mais encontres um resto de felicidade, e que vivas uma longa vida. Que recebas o dobro, o triplo do que me deste, da dôr por que passei devido a ti. Para ti desejo o pior que possa haver. Talvez isso faça de mim uma péssima pessoa. Nunca seria pior que tu.
Agora vou tentar aproveitar esta oportunidade que surgiu de voltar a ser feliz, de voltar a sentir uma comunhão profunda com esse "alguém", de sentir algo maior do que eu. Agora vou espancar-te para fora deste músculo palpitante e vou preenchê-lo com risos, com alegria, talvez mais tarde com esta felicidade que me estão a oferecer quase de bandeja.
Agora, pelo menos um dia destes, muito próximo, passarás tu a ser um "alguém" na minha vida, minguando aos poucos até à destruição completa.
Agora vou tentar ser feliz - E isso assusta-me muito mais do que conseguirei algum dia admitir. Mas... Eu cá acho que é um objectivo tão viável como qualquer outro :) Não é?

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Sentimentos que não perdoam

Sinto-te aqui! Sempre!
Basta cheirar o ar, respirar fundo.
Basta sorrir, escrever, cantar, tocar
músicas que não me recordam de ti.
Estás em cada fímbria do meu ser,
em cada retalho de mim que caiu
de todas as vezes em que te achei esquecido.
Estás em tudo o que sou
e serei alguma vez, estás em tudo o que faço.
Vai-te embora. (Por favor vai-te embora)

terça-feira, 20 de junho de 2006

Fuga

Fotografia por Erik Reis, «Pela estrada fora»
Hoje, só quero fugir. Para bem longe daqui. Longe dos erros que cometi, de quem magoei, de quem me magoou a mim. Longe de tudo o que não fui. Tanto que não fui... Tanto que podia ter sido... Quero fugir de quem me ama, de quem me odeia - de quem não sabe bem o que sente. Não quero estar por aqui quando souberem finalmente. Sei que fugir nunca resolveu nada - E então? Se já tentei tudo o resto, e não sobrou grande coisa de mim?
Depois de fugir... Quero não ter de olhar para trás, cortar qualquer amarra, sentir que se desprendem de mim todas as correntes que trazia, caírem assim abandonadas no chão, não quero ser eu nunca mais. Quero conhecer-me como se fosse a primeira vez, o primeiro encontro, o primeiro beijo. Quero descobrir-me. Provavelmente para me desiludir de novo, para não esperar tanto de mim, para não antecipar já tanta decisão, cada erro, cada recaída. Para conseguir sonhar de novo com o coração aos pulos, sorrir com a chuva a bater-me na cara e correr pela estrada fora, simplesmente porque sim...
Diz-me, anjinho, se eu te pedir, foges comigo?

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Pronta para parar de sonhar a preto e branco (já era mais que tempo)

Tiago Phelipe «sonhos com cores»

Apaguei hoje (sim, infelizmente só hoje) as mensagens que me mandaste.
Não porque «teve de ser».
Não porque «não me mereces» (e de facto não mereces :P)
Apenas porque, de repente, não fazia sentido estarem ali.
Não fazia sentido estares aferroado tão profundamente a mim.
«Com licença, preciso do espaço que tens estado a ocupar... para mim»
E pela primeira vez isto parece-me absolutamente natural, razoável, acertado.
Pela primeira vez, vejo-te de uma forma totalmente diferente - muito menos marcante.
Descobri hoje - agora mesmo - que és igual a todos os outros.
E assim serás, a partir de agora.
Dentro de mim terás o mesmo espaço que reservo a tantas outras pessoas que conheci - nenhum, ou muito pouco.
Onde ficarás agora? Nestes textos.
Neste blog que acarinho, que me conforta, que me apoia de uma forma estranha sempre que eu preciso.
Ficarás aqui, mas só aqui. Em mais lado nenhum.
Talvez permaneça, ligeiramente, a tal "ideia" de ti, mas...
Penso que mesmo essa desapareceu, hoje.
Não sobreviveu ao tempo. Sem ti.
Mas eu, sim. Sobrevivi. Ultrapassei. Conseguirei muito mais. Tu és a prova disso.
Hoje, sinto-me forte.
Obrigada, priminha. O que seria eu sem ti? :)
(Também és o meu anjo, que vela algures por mim)
Custou (muito) mas resultou!

Exercício de respiração... Uma pausa nos estudos

Fotografia por Marta, só «sentir»
Inspiro,
Expiro,
Pensando que talvez assim se afaste a dor
Aquela que chega ao mesmo tempo que a tua memória
Esperando que assim consiga concentrar-me em mim
E no meu futuro
E na minha felicidade
E noutra pessoa qualquer - Que não tu
Inspiro,
Expiro,
Alguém me disse que o segredo está em ouvirmos a nossa própria respiração,
Tudo o que oiço é o eco suave das tuas palavras - Ou terão sido minhas?
Já não sei
Nada me traquiliza, eu sei
Inspiro,
Expiro,
Ainda não estou pronta - Mas tenho de estar
Quero tanto estar
Esquecer-me.
Esquecer-me definitivamente.
Recalcar tudo isto para o fundo do meu inconsciente
Para o âmago de algo que tenho em mim e que teima em trazer ao de cima tudo o que tem a ver contigo
Tu, que não me mereces.
Inspiro,
Expiro,
E sei que assim não vou a lado nenhum
Assim, em vez de memorizar Delacroix, Ingres, Goya, Fiissli
A minha memória quase rebenta pelas costuras
Estupidamente cheia
A abarrotar de ti.
Estou farta
Mais que farta
Enojada já pela ideia de ti
Saturada pelos sentimentos que já não me dou ao trabalho de definir há muito tempo
E durante muitos momentos odeio-te, talvez porque seja mais fácil
Mas mesmo assim é demasiado forte
Mesmo assim ocupa demasiado espaço
Demasiada importância
Demasiada tristeza
Inspiro,
Expiro,
E volto ao meu estudo
Já mais calma
Pronta a olhar para o futuro com outro olhar
Pronta a ser eu de novo,
Não apenas outro alguém que abandonaste sem olhar para trás
Não aprendi nada de ti - Apenas a não confiar
E que uma grande paixão vem sempre acompanhada de uma grande dor
(De uma forma bastante proporcional).
Inspiro, expiro. Não me ajuda muito. Mas o facto é que...
Quem poderá arranjar a ajuda necessária para mim, senão eu mesma?
(E nunca mais chegam as férias...)

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Poeta do Dia - Pedro Canais



Ameaça

"Um dia vais arrepender-te!

Vou fazer-me explodir em palavras diante de ti
E vamos morrer os dois cravados de sentidos."

segunda-feira, 5 de junho de 2006

(Só mais um) Dia Mau


Fotografia tirada por mim, hoje, «a menina dança?»
Dei-te tudo.
Tudo?
Não.
Dei-me. Isso sim. O mais que púde.
Preciso de mim e já não me tenho.
E vou ganhar-me de volta, seja como fôr.
Por mim.
Pelo que podia ter sido, para que o seja um dia
com outra pessoa.
Para que esse dia seja outro
e outro
e não termine...
Preciso de ti, principezinho,
Dança comigo,
Cativa-me,
E eu prometo que nunca te esquecerei
E a menina, dança?
(um dia mau como a m....)

sábado, 3 de junho de 2006

Poeta do Dia - Núno Júdice

Fotografia por Raquel, «X»
"Quero dizer-te uma coisa simples: a tua ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma; mas que não deixa, por isso, de deixar alguns sinais - um peso nos olhos, no lugar da tua imagem, e um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto. São estas as formas do amor, podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples também podem ser complicadas, quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade. Porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a realidade aproxima-me de ti, agora que os dias correm mais depressa, e as palavras ficam presas numa refracção de instantes, quando a tua voz me chama de dentro de mim - e me faz responder-te uma coisa simples, como dizer que a tua ausência me dói."
em Pedro Lembrando Inês

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Num sítio só teu

Não consigo olhar-te porque não estás aqui. Ficaste nas palavras que permaneceram por dizer, nos meios-sorrisos que nunca chegámos a explicar. Ficaste na incompreensão que foi aumentando entre ambos e em tudo aquilo em que não estávamos mas que preferimos guardar para nós. Cansaste-te do que era simples e ficaste algures, num sítio que já não é nosso, não é meu. Preferiste, algures, um sítio só teu.
Fotografia por Paulo Cesar, «Substância da alma»

quarta-feira, 31 de maio de 2006

Poetisa do Dia - Sophia de Mello Breyner Andersen

Fotografia por ABrito, «Mãe natureza»

«Biografia»
Tive amigos que morriam, amigos que partiam
Outros quebravam o seu rosto
contra o tempo.
Odiei o que era fácil
Procurei-te na luz, no mar, no
vento.

"No Tempo Dividido e Mar Novo",
1985: 82

segunda-feira, 29 de maio de 2006

Elogio ao amor, por Miguel Esteves Cardoso

Fotografia por Nokas, «running heart»
"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro.

Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.

Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".

Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.

Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.

O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha – é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

quarta-feira, 24 de maio de 2006

A comer chocolates

Pintado a Pastel de óleo, dia 7 de Março de 2006

“Quantas vezes vais olhar p’ra trás? Estás preso a um passado que pesou... Quantas vezes vais ser tu capaz de fazer sair que por engano entrou? Abre a tua porta, não tenhas medo, tens o mundo inteiro à espera p’ra entrar...”

Quem diria que esta música acabaria por significar tanto? Quem diria, quando ma "cantaste" ao ouvido, que irias ser tu a entrar por engano, que te tornarias algo extremamente pesado e doloroso num passado que me prende de uma maneira tão mortífera. (Incrivelmente)Ainda à espera que o medo se vá embora... À espera de quem não chega, à espera de quem já não vem...

Guardo de ti os momentos mais românticos e as palavras mais doces da minha vida. Guardo bem dentro aqueles olhares que me dirigias, a cada momento, guardo a tua mão na minha sempre que podias (e mesmo quando não podias).
Guardo sim as mensagens e as imagens que me mandaste, sei que não devia guardar. Já me disseram, já me disse eu nos momentos mais lúcidos. Mas sei que nunca conseguiria ficar também sem isso.
Guardo a ideia ou a ilusão de que nunca deixaste de gostar de mim.
Guardo de uma maneira quase masoquista as tuas frases que sempre soube serem surrealmente prometedoras “enquanto tiveres um lugar para mim no teu coração”e “hoje pedi um desejo a uma estrela”...
Guardo este desenho na parede do meu quarto, este que pintei, desenhei, sempre a pensar em ti, o telemóvel ao meu lado enquanto me ias enviando mensagens, o alento que me trouxe a tua voz, a alegria extrema, olho para ele e quase sinto de novo a alegria que me ofereceste, que eu não acreditava poder sentir. Quase. Este desenho que me grita amor e paixão, alegria, loucura desmedida. Grita-me tudo isso e eu não quero ouvir (E dói demais ouvir).
Guardo já de maneira muito indistinta a tua voz carinhosa, ao lado a tua voz aborrecida, ao colo a tua voz envergonhada...
Não perdôo o quanto sofri por ti. Não me perdôo por ter acreditado em tudo o que dizias (não tudo, claro. Mas sempre achei que em relação ao que realmente importava, não havia razão para me mentires). O meu erro? Não sei qual terá sido. No passado sim, cometi bastantes, e só se esses voltaram para me assombrar. Mas fui então condenada por um erro pelo qual já paguei? Com o qual já aprendi (Bem mais do que gostaria)? - E que, verdade seja dita, não teve rigorosamente nada a ver contigo - Onde está a justiça? E o teu erro? Qual terá sido?
Tudo isto são perdões e desculpas que não poderão nunca ser concedidos, os erros não foram meus, não foram teus. (Será que se podem chamar de erros, de todo? Foram... Situações que ocorreram). Não querendo com tudo isto dizer... Que tudo o que fizeste não te tornou num ser humano desprezível... Mas o facto é que também eu fiz coisas de que não me orgulho. Simplesmente, não contigo. Nunca contigo. Felizmente, não me fizeste arrepender de nada – Mesmo que, de uma forma ou de outra, tenhas tentado.
Mudaste a minha vida de formas que só eu sei – E tento esquecer. Um dia serás recordação difusa, relembrar-te-ei apenas através das lembranças tácteis que me restarão... Amei-te (amo-te) como nunca amei ninguém, sem razões nenhumas. Sem pensar. Sem motivos. Sem querer? Talvez não. Talvez quisesse desesperadamente sentir algo por alguém, e apareceste tu. Talvez. E eu sem imaginar que sentiria algo tão forte... Que isso que senti existia sequer.
Mais que tudo, guardo de ti esse sentir. Pelo menos tento guardar, com todas as minhas forças, mas ao invés o que fica é um seu pálido reflexo.
Lembro-me como me senti. Lembro-me, já não sei.
Guardo de ti... Em suma, tudo o que posso.
Guardo de ti os mais pequenos detalhes que se me escapam entre as nesgas da memória, aperto-os de encontro a mim até mesmo assim se desvanecerem também, guardo tudo isso junto e tento fechar a sete, a mil, a um milhão de chaves, escondo-as em sítios completamente improváveis, tento jogar comigo mesma... Mas acabo sempre por saber onde estão, e logo as colecciono, para quase sem forças rever o pouco que me deixaste.
Guardo de ti (não propositadamente, claro) as facturas de todo o chocolate que comprei para saciar sabia lá eu o quê, guardo o momento em que me apercebi que mesmo apesar de tudo isso as pessoas se dirigiam a mim e notavam que estava a emagrecer. Provocaste mudanças tão profundas em mim que elas afectaram a minha forma física, consumiste-me de uma maneira indescritível – Será que imaginas sequer isto? E de repente nem isso é importante...
Guardo de ti a fotografia francamente ridícula do boneco de neve que baptizaste como nosso, juntamente com aquela em que não se nota que és tu, e a outra em que talvez parecesses tu num dia estranho se eu apenas me lembrasse como tu és...
Sim, guardo a confusão extrema, que se enrodilhou à volta da tua imagem, essa permanece, essa estará sempre ali. Um ponto de interrogação gigante a que ainda não consigo ficar indiferente, que me perturba, que me intriga.
Guardo a noção extremamente lúcida de que o melhor será esquecer-te definitivamente e que tudo o que me trarás daqui para a frente não será nada para além de dor e sofrimento – que nem o teu sorriso conseguirá apaziguar, nem sequer por momentos. Guardo a ideia de que até mesmo esse “guardar” será muito doloroso. Que não o devia fazer.
Guardo de ti uma impressão esquisita no fundo do estômago cada vez que oiço «aquela» música (e, descobri há pouco tempo, «aquela» voz). Um «baque» que me irrompe pelo peito e não me deixa respirar normalmente, mas que ninguém nota, ninguém vê, ninguém sente. Só eu.
Assim, guardo-te como me dá mais jeito enfim, guardo-te muito provavelmente não como és na realidade mas como foste para mim. Um teu “Eu” especial que só me mostraste a mim – Real ou não. E se foste real apenas por momentos... Ao menos ofereceste-os a mim, e guardo-te assim - como te ofereceste. Sem tirar nem pôr. Relembrando-te sempre possessivo e ciumento. Complexo demais. Romântico demais.
Guardo de ti a convicção que me amaste também, e sei que já o disse, mas di-lo-ei, uma e outra vez, provavelmente por toda a minha vida, até que um dia tenhas a coragem para me contradizer.
Guardo tudo isto de ti, e descubro que não chega.
Não chega ter de olhar para trás ou para dentro ou para outro local qualquer quando quero sentir-me mais motivada, mais feliz, menos descontente com a vida. Não quero guardar os episódios que me fizeram tão bem, quero esses momentos no meu presente, queria-te a ti como me lembro que eras e noto a impossibilidade desse acontecimento porque tu, como eu te recordo, não existes, não és. Talvez nunca tenhas sido, e certamente nunca mais existirás, mesmo que eu tenha estado certa este tempo todo. Nunca mais serás, para além da memória que eu insisto em reter, mais do que um hipócrita, um cobarde, imaturo, superficial.
Por isso mesmo, abraço a recordação que tenho de ti, para não sentir uma dor tão forte como se me apercebesse que o meu amor não existe. Que foi uma ilusão. Na minha mente estás de alguma forma vivo, real, aqui, tão perto de mim, e amas-me. E eu acredito que, de alguma forma, nunca vou deixar de te amar. Tu, que nunca mais existirás, o vazio à minha volta, dentro de mim preenches-me, tu. Eternamente, tu.

quinta-feira, 11 de maio de 2006

Aqui, tão perto de mim

Fotografia por Catarina Cruz, «Warmness on the Soul»
Passas por mim e não me olhas. Espero que não me tenhas reconhecido. Estou tão diferente. Fiz tanto por estar tão diferente. Tanto por esquecer o que fui, quem fui, como fui - contigo. Tento resisitir ao impulso de te seguir, mas é um impulso tão forte. Muito mais forte do que eu alguma vez fui capaz de ser. Vou assim caminhando, uns passos atrás de ti, cada vez que páras eu recuo um pouco. Por favor, não olhes. Não quero que me olhes. Não posso sequer imaginar o que dirias, o que farias tu se soubesses que estou aqui. Perto de ti.
Revejo na minha mente todos os cenários que partilhei contigo, agora mais nítidos devido à visão renovada da tua face. Sorrio. Um sorriso triste, de quem se apercebe que afinal não terá estancado a hemorragia tão bem quanto devia.De quem se achava tão forte. Preparada. Preparada para te enfrentar outra vez. Mas não estou. Não sei se um dia estarei.
Alcanço-te por fim. Estendo o braço, a mão, tão perto, tão próxima, mas não te toco, não consigo. Se me afastar agora ainda vou a tempo, nunca saberás que estive aqui. Será que vou eu também a tempo de me perdoar a mim se o fizer?
Imagino que te viras, o teu olhar cruza-se com o meu. Sorris automaticamente, esse teu sorriso. Li tanto nesse teu sorriso. Desejo, amor, desculpas. Desculpa-me. O olhar que desviaste e tentaste não fixar em mim. Desculpa-me tanto. Li um mundo no teu olhar que durou um instante apenas. Lembro-me de como tentaste em vão esbater o sorriso para os cantos da boca, e só me apetece abraçar-te de encontro a mim outra vez. Só quero recordar-me de ti.
Silenciosa, inspiro. Já não tens o mesmo cheiro. Não saberias o que dizer, eu ficaria calada, o meu sorriso lutando também ele por se libertar, desvendar-se em mil gargalhadas de pura felicidade, apenas por te ver aqui. Aqui, tão perto de mim. Não te conseguiria ouvir, para te falar teria de me aproximar ainda mais de ti. Não consigo, sei que não estou pronta, tenho medo, medo de mais uma vez descolar um do outro os pedaços de mim, ainda não estão totalmente encaixados, ainda estão tão frágeis.
Impotente, deixo cair os braços. Dou meia volta, afasto-me.

sexta-feira, 28 de abril de 2006

Poeta do Dia: Vinicius de Morais

"Dia e noite são iguais:
Fica noite se tu chegas;
Anoitece se te vais"

quinta-feira, 27 de abril de 2006

Passado Revisitado

(Texto escrito por volta de Setembro de 2005)
Antes de acordar já sabias que não ias estar ali... perguntei à noite «Porque não o prendeste no teu abraço frio? Esse que me ofereces sempre tão constantemente...» Ela riu-se de mim e beijou-me (Eu desejei que fosses tu) Agora finjo que nada aconteceu, abraço-me a ti para não te perder, como se isso fosse mudar alguma coisa. Os meus lábios escapam por pouco ao prazer de te saborear uma vez mais, os meus pés transportam-me para junto do teu corpo; E eu não quero; E eu não sei se quero! Volta para trás. Nunca mais. Nunca mais olho para ti.
Fotografia por Marcelo Guedes, « o que será que estão sonhando»

terça-feira, 25 de abril de 2006

What If

"What if you should decide
That you don't want me there by your side
That you don't want me there in your life ?", Coldplay, Álbum x&y

sábado, 22 de abril de 2006

Da tua nuvem

Fotografia por Alexandre Salles, «Estudo 003»
Olhei para o lado e já não estavas
Não sei se exististe
Algum dia; E acima de tudo
Surpreendi-me com a minha capacidade de sonhar
Descobri-me em ti
Quando te foste embora
E agora já não quero que voltes
Pintaste da tua nuvem
Os meus sonhos de verde
E de azul e amarelo - Agora,
Deixa que me estique até tocar a ponta do teu pincel
E pinta-me de novo, de branco,
Mas da tua nuvem,
Para que a distância crescente não me permita
Ver o teu rosto

Ou aspirar o teu perfume
Ou lembrar-me de como me senti
Contigo
Sopro as recordações na tua direcção,
Caminho em direcção ao mar
Virando-me para trás vezes sem conta

E nunca sem um pouco de carinho
Espezinho os últimos vestígios de ti.

terça-feira, 18 de abril de 2006

Poeta do Dia - Pablo Neruda

Foto de Graça, «a room at the heartbreak hotel»
"Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,

se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo."

domingo, 16 de abril de 2006

Envelhecida


Foto por Fernando Siqueira, «a dor do sentimento»
Fico-me com as recordações. Os pedaços que me deixaste. Mais nada. Não posso mais, não assim. Não consigo... Desculpa-me mãe, mas não me chega o que tenho agora. Não me devolveste! Quero-me tanto de volta... Como era antes. Aqui é tudo cruel e frio. Aqui é tudo tão alegre e eu não aguento. À minha volta, risos. Da minha boca, gargalhadas. E eu, só. Desnorteada. Sem rumo. Quero tanto e não consigo. Tudo me dói. E eu? Onde terei ficado? Pelo caminho. Pedaços de mim. Onde te disse que era tua. E agora não sou de ninguém, nem eu me quero. Não quero que sejas feliz. O frio gela-me os ossos e eu sei que tenho de voltar para dentro. Mas tenho medo. Medo da alegria que não consigo sentir, medo de ti que estás em cada divisão, do pouco que te pedi e que mesmo assim não me quiseste dar. Tenho medo de ficar aqui fora para sempre, de nunca mais arranjar coragem para voltar a entrar. De ver para sempre a vida por uma janela embaciada pela minha respiração alterada, pelos soluços que acabo por não conseguir conter. De ficar aqui a olhar para um corredor por onde ninguém irá passar, aparecer subitamente para me abraçar e dizer que está tudo bem. Estou sempre tão cansada. Sou demasiado nova para estar sempre tão cansada. Envelheceste-me. Estragaste-me. Não suporto a ideia de seres feliz. Não consigo. Tudo aqui é demais para mim. Contigo, era sempre muito pouco. Não consigo ser forte o suficiente para não desejar nunca te ter conhecido. Por isso mesmo, seria esse o meu pedido a uma estrela cadente. Nunca me disseste o teu. Pode ser que se tenha realizado. Quem sabe? Só tu. Só tu saberás ao certo.

quarta-feira, 12 de abril de 2006

O Derrubar de Muros

(Texto escrito a 20 de Dezembro de 2005: )
Não sei quanto tempo mais vou aguentar esta situação... Ter de me lembrar tantas vezes como doeu e como dói ainda toda a situação em que me meti. De como me senti humilhada e como me sinto ainda... É incrível como tudo o que senti de mau na altura permanece de uma maneira tão determinante. A humilhação. O medo. A vergonha. A dor psicológica. A incerteza. A sensação crónica de estupidez completa. O ódio. Ódio tão supremo, tão absolutamente aniquilante. Tão mortífero. Por mim. Pelas escolhas que fiz, pelas escolhas que me obrigaram a fazer. Pelas que não púde fazer, aquelas que devia ter feito e não fiz. Tudo isto permanece... Meses e meses depois. Não a sensação de distância que no momento esperei vir a ter, mais tarde. Por vezes sinto-me como se tivesse acontecido ontem. Mas não aconteceu, relembro isso a mim própria vezes sem conta. Eu já devia ter ultrapassado esta situação. Mas não consigo. Há uma espécie de muro que não consigo derrubar, e esse muro... Mata-me. Aos poucos. Devagarinho. Tão devagarinho que eu quase não noto. Vou definhando aos poucos. E não sei o que fazer. Acho que foi um pouco por isso, por sentir isso muito ligeiramente, que comecei a escrever este blog. Para me agarrar à vida com mais força, para me tentar ler, como páginas amachucadas. Não consigo, sentir essa alegria de viver que me dizem para sentir, por causa desse muro monstruoso que se ergueu tão inesperadamente à minha frente, no caminho que fui traçando nestes anos. E não posso dizer tudo isto a ninguém. Cheia de remorsos, vergonha que me preenche cada dia pior. Saber que vou ter de viver com tudo isto durante tempo indeterminado. Até descansar por fim. Vou-me afastando de tanta coisa, porque me recordam de alguma maneira (mesmo que apenas ligeiramente) o que aconteceu. Mesmo de uma maneira muito superficial. Parece que basta um bocadinho. Um gotinha para vir tudo ao de cima, como se fosse de novo o dia seguinte e eu estivesse ali, parada, a olhar para o vazio. Sem saber o que pensar, o que dizer. O que sentir. Sem saber coisa alguma. E sabendo tudo isso, ao mesmo tempo. Saber exactamente o que devia ter feito, o que devia ter dito, o que devia ter acontecido. Foi tudo tão errado, como não devia ter sido. Odeio-me por isso. A culpa foi toda minha. Aliás, não tenho bem a certeza de quem terá sido, e acho que isso é o que dói mais. Se eu acreditasse no destino as coisas seriam mais fáceis, suponho. Estaria tudo previamente escrito, não haveria de facto algo que eu pudesse fazer. Mas a verdade é que... Devido a escolhas irreflectidas... Tudo aconteceu. Escolhas que fiz. Dizem que somos o que fazemos. E não me consigo perdoar pelo que fiz (Mesmo cerca de três meses depois). Sujo. Mas, nem tudo na minha vida foi mau e pouco inteligente, também tomei decisões ponderadas e que se revelaram, a curto ou a longo prazo, boas decisões. E no fundo não sou má pessoa. Então porquê? Não sei como algum dia vou poder viver com isto. Não me imagino confortável com esta situação, a viver de uma forma calma a minha vida.
(Apesar de tudo, obrigado. Pelo teu ombro molhado. Graças a ti derrubei por fim esses muros que me faziam desfalecer aos poucos. Pelo teu sorriso. Pela tua mão na minha face, os teus lábios bebendo a água salgada que finalmente fui capaz de libertar. A água que me inundava o coração há tanto tempo e que tu soubeste de alguma forma encantar. Tal como me encantaste a mim. Sem querer. Por querer. A tua mão na minha... Sempre)

domingo, 9 de abril de 2006

«Sou teu», «Sou tua»

Todos os dias são estranhos. Devolve-me. Já.

quinta-feira, 6 de abril de 2006

Depois do ódio


Por Rodrigo Figueiredo, « ..depois do odio...»
(Deixa-me amar-te essa nudez crua com que enfeitas os teus silêncios. Esse olhar que me lanças quando não sabes o que dizer. Nunca sabes o que dizer)

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Poeta do Dia - Alexandre O'Neill

"Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti."

Eu. Só.


Descubro-me aos poucos. Resoluta, firme. Eu. Só eu. Sabe-me bem. Por vezes vou-me abaixo. Mas altiva continuo - em frente. Sorrio. Tenho medo que de tanto tentar mostrar que sou feliz me esqueça de o ser, realmente. De me perder nisto que ainda não sei se estou pronta para ser. Tenho medo por segundos. Mas continuo sempre - Os momentos de fraqueza cada vez menos frequentes. Os «blackouts» da realidade espaçando-se mais e mais. O teu rosto liso. Sem face. Não tens face. Convenço-me aos poucos que nunca a tiveste. Eu, forte. Segura. Só. E tu, uma mancha ao fundo do quarto, uma boca sem lábios que me sussurra palavras doces imperceptíveis, cada vez mais distantes. Um corpo sem forma que me tenta abraçar. Enrosco-me em mim e durmo. Sorrio. Eu, forte, segura, só. Não me quero esquecer de ser feliz - Não me quero esquecer de viver. Sei que não és conscientemente tu quem me atormenta - Eu atormento-me a mim própria e culpo-te a ti. Apesar de seres culpado de muita coisa. Sei que sou forte. Sei que não preciso de ti. Eu. Só. Segura. Assim. Não te consigo ver, esquecer, perdoar, odiar, amar. Não te consigo agradecer. Não te consigo pedir desculpa por isso. Não te consigo NÃO guardar rancor. Não consigo ser só eu, não consigo estar assim. Não consigo lembrar-me de ser feliz!

terça-feira, 4 de abril de 2006

Poeta do Dia - Miguel Torga

Filipe Estrela, «Nú#3»
"Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada. "

segunda-feira, 3 de abril de 2006

Muito, meu amor (Pedro Paixão)

Fotografia por Graça, «In the Black»
"Porque quero eu que tu gostes de mim até não podermos mais?
Para sentir o mistério de sermos só os dois a gostar assim e nunca mais ninguém?
Para me ver livre de mim?
Para apagar o mundo?
Para ter a recompensa do prazer e o alívio que sempre ficou para trás?
Para vencer, vingar, dominar o que quer que seja que ficou por vencer, vingar, dominar?
Tudo isso ao mesmo tempo?
Sim, talvez."
Pedro Paixão em «Muito, meu amor»

domingo, 2 de abril de 2006

Poetisa do Dia - Maria do Rosário Pedreira


Paulo César, «Me and myself»
"Diz-me o teu nome - agora, que perdi
quase tudo, um nome pode ser o princípio
de alguma coisa. Escreve-o na minha mão
com os teus dedos - como as poeiras se
escrevem, irrequietas, nos caminhos e os
lobos mancham o lençol da neve com os
sinais da sua fome. Sopra-mo no ouvido,
como a levares as palavras de um livro para
dentro de outro - assim conquista o vento
o tímpano das grutas e entra o bafo do verão
na casa fria. E, antes de partires, pousa-o
nos meus lábios devagar: é um poema
açucarado que se derrete na boca e arde
como a primeira menta da infância.
Ninguém esquece um corpo que teve
nos braços um segundo - um nome sim."

sábado, 1 de abril de 2006

Poeta do Dia - António Ramos Rosa


Fotografia de Hugo Manita, «gota de outono»
"Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração."

quinta-feira, 30 de março de 2006

Coração sem imagens (Raul de Carvalho)



"Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem / as imagens?

Preciso habituar-me / a substituir-te / pelo vento,
que está em toda a parte / e cuja direcção é igualmente passageira / e verídica.

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos / invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve / a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão / felicidade a ninguém.

Era mais difícil perder-te, e, no entanto, perdi-te.

Era mais difícil inventar-te, / e eu te inventei.

Posso passar sem as imagens
assim como posso / passar sem ti.


E hei-de ser feliz ainda que isso não seja ser feliz."

quarta-feira, 29 de março de 2006

O Silêncio

O que temes tanto? O que sentes? O que és, ou o que foste até agora? Observo-te, estudo-te. Não sei como és, não te conheço. Invento contos de fadas em que tu és apenas um despreocupado ajudante de vilão, ou mesmo um jardineiro que não olha para o rosto da princesa (mencionado algures numa linha do texto, com o cozinheiro e a criadas)... Invento finais felizes que por vezes parecem tão possíveis, tão próximos. Outros que não deviam sequer existir. Seguro-te no braço, beijo-te a mão. Suave. Sorris-me e dizes-me que está tudo bem. Empurras-me para um precipício - dizes que está tudo bem. Eu vou caindo suavemente, lentamente, e sorrio-te de volta, olhando para onde já não estás. Já não sei se foste apenas alguém com quem eu sonhei, um produto da minha imaginação (Desejo que tenhas sido apenas isso). Lembro-me da tua cabeça, não da tua face. Do teu cheiro, do teu toque, mas apenas ocasionalmente da tua voz. Tenho saudades de algo que já não me lembro muito bem como é, e sinto-me estranha comigo mesma. Estendo as mãos, sinto os meus cabelos a voarem à minha volta, o chão cada vez mais perto de mim e tu não estás ali para me agarrar, também tu te foste - Disseste que me queres, que me adoras, que não me queres magoar e afastaste-te - e eu, em queda livre, esbofeteio a lógica, o raciocínio lógico, acredito em ti. O silêncio. É tudo o que me dás. E eu...? Eu não posso aceitar.
Fotografia tirada por John Hui Kim, «your silence»

quinta-feira, 23 de março de 2006

Pontos de viragem

As ondas que desgastam as rochas, violentamente. O luar que treme, inseguro, brilhante. Ilumina parcialmente o teu rosto, uma sombra crescente na tua face. Ombros em que me apoio. Sem querer. Ou querendo muito mais do que isso. O meu dedo nos teus lábios, seguindo as suas curvas, as suas imperfeições. Seguindo a curva do teu nariz. (O meu olhar, o teu) Tudo fica por dizer. Sempre. Pensamos demasiado. Sem querer. A noite que nos engole. Que nos trai. A noite que troça da inocência que já não nos lembramos de ter. Eu e tu. Sem querermos. Ou por querermos muito mais.

terça-feira, 21 de março de 2006

Escritor do dia - Miguel Sousa Tavares

"Foi um processo longo e dfícil, como sempre o são as aproximações entre duas pessoas habituadas a estarem sozinhas. Primeiro parece fácil, é o coração que arrasta a cabeça, a vontade de ser feliz que cala as dúvidas e os medos. Mas depois é a cabeça que trava o coração, as pequenas coisas que parecem derrotar as grandes, um sufoco inexplicável que parece instalar-se onde dantes estava a intimidade. É preciso saber passar tudo isso e conseguir chegar mais além, onde a cumplicidade - de tudo, o mais difícil de atingir - os torna verdadeiramente amantes." Não te deixarei morrer, David Crockett

sábado, 18 de março de 2006

Amar em Silêncio

"Nunca devemos amar em silêncio, nada é mais perigoso do que dividir com outrém os pensamentos vividos em silêncio. Um amor feliz precisa do turbilhão das palavras, das frases aparentemente inúteis e sem sentido, precisa de adjectivos, de elogios, do ruído das banalidades. Não há felicidade que não seja tantas vezes fútil, tantas vezes inútil" Não te deixarei morrer, David Crockett

terça-feira, 14 de março de 2006

I know you can show me....

Era capaz de estar para sempre abraçada a ti, confundir o meu corpo com o teu, dar-te intermináveis beijos, manter-te perto de mim. Ninguém percebe. Mesmo que não o digam, acham que é um exagero, que me estou a precipitar (Também eu acho... Mas esqueço-me disso sempre que falo contigo). Mas, por outro lado, faz tanto sentido... A única coisa que não faria sentido seria eu não estar contigo. Estar com outra pessoa qualquer. Sempre tive esta impressão, com todas as pessoas com quem tive - que faltava qualquer coisa, que algo não batia certo. Contigo, não. Sei que não. Tudo bate certo quando estou contigo. Quando te toco, quando te vejo, quando te olho e não consigo parar de sorrir. Tudo se encaixa na perfeição. Amo-te. Talvez um dia seja capaz de to dizer. Mas entretanto, guardo isso para mim. Amo-te com acções, com palavras doces como as que me entregaste sem eu pedir nada. Palavras que me deixariam tudo menos á-vontade.. Se não fosses tu. Tenho fome, sede de ti. Não é um sentimento possessivo, é um sentimento que me parece tão natural como se tivesse sido sempre assim, mas faltasses apenas tu para completar o puzzle. Sempre ali, sussurrando-me «Espera por mim». Desculpa-me se te ignorei tantas vezes. Se tentei ser feliz sem ti, o desespero a corroer-me a alma, se não acreditei que virias de facto um dia. Mas tenta perceber... Habituei-me a todo este tempo sem ti. Temos tempo, não temos? Para nos conhecermos, para confiarmos um no outro, sem pressas. Para poder ter a certeza que és tu. Que sempre foste tu. A minha mão na tua. Sssshhh....Amo-te.