
O que temes tanto? O que sentes? O que és, ou o que foste até agora? Observo-te, estudo-te. Não sei como és, não te conheço. Invento contos de fadas em que tu és apenas um despreocupado ajudante de vilão, ou mesmo um jardineiro que não olha para o rosto da princesa (mencionado algures numa linha do texto, com o cozinheiro e a criadas)... Invento finais felizes que por vezes parecem tão possíveis, tão próximos. Outros que não deviam sequer existir. Seguro-te no braço, beijo-te a mão. Suave. Sorris-me e dizes-me que está tudo bem. Empurras-me para um precipício - dizes que está tudo bem. Eu vou caindo suavemente, lentamente, e sorrio-te de volta, olhando para onde já não estás. Já não sei se foste apenas alguém com quem eu sonhei, um produto da minha imaginação (Desejo que tenhas sido apenas isso). Lembro-me da tua cabeça, não da tua face. Do teu cheiro, do teu toque, mas apenas ocasionalmente da tua voz. Tenho saudades de algo que já não me lembro muito bem como é, e sinto-me estranha comigo mesma. Estendo as mãos, sinto os meus cabelos a voarem à minha volta, o chão cada vez mais perto de mim e tu não estás ali para me agarrar, também tu te foste - Disseste que me queres, que me adoras, que não me queres magoar e afastaste-te - e eu, em queda livre, esbofeteio a lógica, o raciocínio lógico, acredito em ti. O silêncio. É tudo o que me dás. E eu...? Eu não posso aceitar.
Fotografia tirada por John Hui Kim, «your silence»
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