quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Vem

A tua boca é um dia inteiro. Os teus lábios adoçam-me a alma, a carne. Quedados, os braços, imóveis, ao longo do corpo, lutam contra a absoluta impossibilidade de se conterem. Dia após dia. E dói. (E o sorriso que me pegas converte-se sem querer num esgar de tristeza, quando imagino um futuro tão convictamente soturno quanto o meu será, um dia).
Vem convencer-me com a luz, as estrelas, a lua cheia, vem encher-me de clichés e frases feitas. Vem - Porque preciso mesmo que venhas. Puxa-me as mãos e descola-me os braços do tronco, corre comigo por entre névoas e chapéus de sol e noites de trovoada, e salta e rola comigo por campos verdejantes, seguramente demasiado verdes e alegres.
Vem, nesta noite em que talvez te diga o que o meu coração cerrado nunca quis pronunciar... Nesta em que tudo parece possível, nesta que acabará depressa demais. Vem comigo adorar o silêncio que vai aumentando à nossa volta e nos envolve enquanto, segura, adormeço nos teus braços...
Fotografia por Graça, «Can't Take My Eyes Off You»

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