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Foto por Fernando Siqueira, «a dor do sentimento»
Fico-me com as recordações. Os pedaços que me deixaste. Mais nada. Não posso mais, não assim. Não consigo... Desculpa-me mãe, mas não me chega o que tenho agora. Não me devolveste! Quero-me tanto de volta... Como era antes. Aqui é tudo cruel e frio. Aqui é tudo tão alegre e eu não aguento. À minha volta, risos. Da minha boca, gargalhadas. E eu, só. Desnorteada. Sem rumo. Quero tanto e não consigo. Tudo me dói. E eu? Onde terei ficado? Pelo caminho. Pedaços de mim. Onde te disse que era tua. E agora não sou de ninguém, nem eu me quero. Não quero que sejas feliz. O frio gela-me os ossos e eu sei que tenho de voltar para dentro. Mas tenho medo. Medo da alegria que não consigo sentir, medo de ti que estás em cada divisão, do pouco que te pedi e que mesmo assim não me quiseste dar. Tenho medo de ficar aqui fora para sempre, de nunca mais arranjar coragem para voltar a entrar. De ver para sempre a vida por uma janela embaciada pela minha respiração alterada, pelos soluços que acabo por não conseguir conter. De ficar aqui a olhar para um corredor por onde ninguém irá passar, aparecer subitamente para me abraçar e dizer que está tudo bem. Estou sempre tão cansada. Sou demasiado nova para estar sempre tão cansada. Envelheceste-me. Estragaste-me. Não suporto a ideia de seres feliz. Não consigo. Tudo aqui é demais para mim. Contigo, era sempre muito pouco. Não consigo ser forte o suficiente para não desejar nunca te ter conhecido. Por isso mesmo, seria esse o meu pedido a uma estrela cadente. Nunca me disseste o teu. Pode ser que se tenha realizado. Quem sabe? Só tu. Só tu saberás ao certo.
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