(Texto escrito a 20 de Dezembro de 2005: )
Não sei quanto tempo mais vou aguentar esta situação... Ter de me lembrar tantas vezes como doeu e como dói ainda toda a situação em que me meti. De como me senti humilhada e como me sinto ainda... É incrível como tudo o que senti de mau na altura permanece de uma maneira tão determinante. A humilhação. O medo. A vergonha. A dor psicológica. A incerteza. A sensação crónica de estupidez completa. O ódio. Ódio tão supremo, tão absolutamente aniquilante. Tão mortífero. Por mim. Pelas escolhas que fiz, pelas escolhas que me obrigaram a fazer. Pelas que não púde fazer, aquelas que devia ter feito e não fiz. Tudo isto permanece... Meses e meses depois. Não a sensação de distância que no momento esperei vir a ter, mais tarde. Por vezes sinto-me como se tivesse acontecido ontem. Mas não aconteceu, relembro isso a mim própria vezes sem conta. Eu já devia ter ultrapassado esta situação. Mas não consigo. Há uma espécie de muro que não consigo derrubar, e esse muro... Mata-me. Aos poucos. Devagarinho. Tão devagarinho que eu quase não noto. Vou definhando aos poucos. E não sei o que fazer. Acho que foi um pouco por isso, por sentir isso muito ligeiramente, que comecei a escrever este blog. Para me agarrar à vida com mais força, para me tentar ler, como páginas amachucadas. Não consigo, sentir essa alegria de viver que me dizem para sentir, por causa desse muro monstruoso que se ergueu tão inesperadamente à minha frente, no caminho que fui traçando nestes anos. E não posso dizer tudo isto a ninguém. Cheia de remorsos, vergonha que me preenche cada dia pior. Saber que vou ter de viver com tudo isto durante tempo indeterminado. Até descansar por fim. Vou-me afastando de tanta coisa, porque me recordam de alguma maneira (mesmo que apenas ligeiramente) o que aconteceu. Mesmo de uma maneira muito superficial. Parece que basta um bocadinho. Um gotinha para vir tudo ao de cima, como se fosse de novo o dia seguinte e eu estivesse ali, parada, a olhar para o vazio. Sem saber o que pensar, o que dizer. O que sentir. Sem saber coisa alguma. E sabendo tudo isso, ao mesmo tempo. Saber exactamente o que devia ter feito, o que devia ter dito, o que devia ter acontecido. Foi tudo tão errado, como não devia ter sido. Odeio-me por isso. A culpa foi toda minha. Aliás, não tenho bem a certeza de quem terá sido, e acho que isso é o que dói mais. Se eu acreditasse no destino as coisas seriam mais fáceis, suponho. Estaria tudo previamente escrito, não haveria de facto algo que eu pudesse fazer. Mas a verdade é que... Devido a escolhas irreflectidas... Tudo aconteceu. Escolhas que fiz. Dizem que somos o que fazemos. E não me consigo perdoar pelo que fiz (Mesmo cerca de três meses depois). Sujo. Mas, nem tudo na minha vida foi mau e pouco inteligente, também tomei decisões ponderadas e que se revelaram, a curto ou a longo prazo, boas decisões. E no fundo não sou má pessoa. Então porquê? Não sei como algum dia vou poder viver com isto. Não me imagino confortável com esta situação, a viver de uma forma calma a minha vida.
(Apesar de tudo, obrigado. Pelo teu ombro molhado. Graças a ti derrubei por fim esses muros que me faziam desfalecer aos poucos. Pelo teu sorriso. Pela tua mão na minha face, os teus lábios bebendo a água salgada que finalmente fui capaz de libertar. A água que me inundava o coração há tanto tempo e que tu soubeste de alguma forma encantar. Tal como me encantaste a mim. Sem querer. Por querer. A tua mão na minha... Sempre)
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