domingo, 20 de maio de 2007

Quando os nossos corpos se separaram, por José Luís Peixoto

"quando os nossos corpos se separaram
olhámo-nos quase a desejar ser felizes.
vesti-me devagar, mas o corpo a ser ridículo.
disse espero que encontres um homem
que te ame, e ambos baixámos o olhar por sabermos
que esse homem não existe.
despedimo-nos.
tu ficaste para sempre deitada na cama e nua,
eu saí para sempre
na noite. olhámo-nos pela última vez
e despedimo-nos sem sequer nos conhecermos."
Fotografia de joana saraiva, fuga

domingo, 13 de maio de 2007

Não adormeças, por Maria do Rosário Pedreira

Fotografia por Nuno Manuel Baptista, «untitled»
Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo
das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas
da casa e de tudo aquilo com que sonhes.

Não adormeças já.
Diz-me outra vez do rio que palpitava
no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha
a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi
de quatro folhas; e das ervas húmidas e chãs
com que em casa se cozinham perfumes
que ainda hoje te mordem os gestos e as palavras.


(...) Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que,
se não adormeceres,
serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono
se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Habituações

Vai-me empurrando neste baloiço de ferro, vigia-me de soslaio, fica perto de mim, prende-me, não me deixes gingar uma vez mais, segura-me com força. Dá-me a tua mão, não me soltes já... Deixa-me ficar só mais um bocadinho...
Admito!, tenho medo que quando me soltares, estas correntes se quebrem, que será de mim depois? Sorris e dizes que basta voltar a levantar-me... Eu sei, eu tenho quase a certeza que sei... (Quase que acredito!), mas não me soltes já... Vou sentindos os grilhões, ásperos, nas palmas das minhas mãos, dão-me segurança, contrastam com o calor da minha pele (da tua). Sinto o vento na minha face, sinto-me liberta. E ainda assim, quero tanto trocar este aço que me controla e me condiciona e me guia (mais que eu gostaria), pelos teus dedos a brincar com os meus...
Deixa que me habitue aos nossos gritos, aos nossos silêncios, ao meu olhar que brilha quando penso o que tenho sempre tanto medo de dizer... Deixa que me habitue a ti, a este nós, a este fado que nos envolve, que troça de nós, tão ironicamente impotentes perante o que vai surgindo à nossa volta....
Deixa que (um dia) te diga tudo o que não consigo dizer e que te abrace como se o amanha não viesse e tivéssemos todo o tempo do mundo. Deixa que sorria e te olhe mais uma vez mais enquanto penso para mim o quanto gosto de ti.
Habitua-te a mim Apesar de sabermos ambos que sim, vais ter de me largar um dia de qualquer maneira mas, e então? Pode ser que baloice de volta para ti... Para que me continues a empurrar, a largar, a empurrar de novo...Pode ser que caia... Me levante e me afaste....

Pode ser que a algum momento sejas tu o que resolve simplesmente parar de empurrar! Mas uma coisa é certa....
De quanto não terão valido esses momentos com a minha cabeça no teu peito e os teus braços à minha volta....?

quinta-feira, 19 de abril de 2007

...

Fotografia por glover barreto, «sonhadora»
Nunca cheguei a achar que sabia alguma coisa, mas agora já não sei o que sei... Confundes-me, deixas-me à deriva... Acho que havia um lado de mim que queria confiar em ti (que talvez tenha chegado a confiar, por momentos apenas). Quase inexistente, acho eu. Mas estava lá. Já não. Pensar, é inevitável. Mas os meus pensamentos mudaram e (com ou sem intenção) já não te vejo da mesma forma. Gosto de ti, mas isso não implica que me cegues ou me iludas ou que esteja dependente de ti. Contigo, não é isso que sinto (e felizmente!)...
Tu também te contradizes. Não me voltes a dizer que vais estar lá (não to pedi) para mais tarde dizeres que és uma pessoa inconstante. E, será que és? ou gostavas de ser? Ou será que quando disseste que "vou lá estar para te apoiar", não acreditavas em pleno no que farias mais tarde?
Não me iludas com promessas vãs.

domingo, 15 de abril de 2007

Divagações...


Fotografia por Lizenor Dias de Carvalho Junior, « cadeado do tempo»
Apeteceu-me escrever... Sobre o quê, não sei ao certo, embora - Verdade seja dita! - ao teres sido maioritariamente tu a ocupar-me a cabeça nos últimos tempos, não haja grande escolha, não é verdade?
Mas o que é engraçado é - longe de tomar-te como certo! - cada vez penso menos neste "nós", menos assustada me sinto com a ideia - mas mais me irrita o não ter sido sempre totalmente sincera contigo, desde que te conheci. Desculpa. Se eu disser que faz parte da minha natureza não é verdade, pelo menos dizem que as crianças têm aquele dom da sinceridae, eu decerto também o terei tido, mas infelizmente (?) cresci e apercebi-me que nem tudo é tão linear quanto isso. Por vezes pergunto-me se cheguei a ser tão criança quanto isso... Não me recordo.
Devo dizer que essa falta de sinceridade, seja ou não uma coisa má, é algo que me incomoda já há muito tempo, mas só tu me fizeste perceber que a possibilidade de mudar está muito mais tangível que o que poderia parecer à primeira vista (ou segunda, ou terceira...)... Mas nem por isso se torna mais fácil.
O que te tentei explicar é que por vezes nem eu sei se estou a ser sincera, se estou a ser Eu, talvez não acredites!, mas não me conheço tão bem quanto isso. Estive tão empenhada ao longo de todo este tempo a construir toda uma pessoa diferente de mim... Que se torna complicado distingui-las... (A tal "esquizofrenia"...) Tudo isto foi escolha minha, e estive mais ou menos confortável até tu apareceres. E me mostrares que podia estar melhor. A questão é... Será que consigo? Será que não é demasiado arriscado? Será que não estarei de novo a fazer a escolha errada?
Não sei...
Jã não sei nada e a vida não vem com um manual de instruções, já sei que não posso planear, calcular, mas não podia sequer prever um bocadinho disto tudo? Só queria ter tido uma pistazinha... Para me poder ter "preparado" melhor para a tua presença (algo drástico, não achas? Enfim...). Para não me apanhares assim tanto de surpresa.
Não sei como terminar isto, não me ocorre nenhuma frase pomposa, nenhuma citação deveras «cliché» como (se formos BEM a ver) são tantas as coisas que dizemos ou fazemos (não vou referir sequer um determinado dueto ao pé do casal simpatico no centro comercial...).
Por hoje, é tudo. Tudo o que consigo escrever. Sinceridade? Em absoluto... Acredites ou não! Pelo menos, deixa-me a mim acreditar nisso...

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Um Dia

"Houve um dia o desejo - Um olhar, um sentir
Como o teu primeiro beijo
Que me impede de fugir daquele momento
Único no tempo e eu sei bem, eu sei bem...
Houve um dia alguém - Alguém que me fez ver
Que para se amar também para isso há que saber
Houve um dia uma voz que no seu tom fez esquecer
Um passado tão atroz, tão longe está já sem se ver
E essas palavras que saem dentro de mim
Não escondem nem mentem
Quando falo de ti, de ti..." Um Dia, Pólo Norte
Fotografia por Sandra Brito, «the light on me...»
Corre-me das paredes, do tecto, do chão do meu quarto! Empurra-me para fora dessa tua vida, vem tu também para me apanhares enquanto desfaleço, adormecida. (Para poder por fim acordar nos teus braços...) E diz-me o que queres de mim. Diz-mo com gestos, com beijos, com carícias. Não o digas com palavras, nem mo sussurres... Sorri. Lembra-te sempre que se um dia me disseres que vai correr tudo bem eu vou acreditar em ti. Se deixares, vou guardar os meus segredos para mim... E se não deixares... Eu não sei o que serei sem os meus segredos! Talvez não seja nada... Tenho medo ne não ser nada sem esta minha armadura de espinhos...

terça-feira, 27 de março de 2007

Indiferença

Fotografia por ®gonçalves, «chose one»
Indiferente... É algo que não faz exactamente parte da minha pessoa... Talvez da que eu gostava tão em demasia de ser. Mas é muito raro conseguir. Mostrar? Iludir? Talvez. Agora, a ti, já nem isso. Ainda tento, inexplicavelmente...
Indiferente...
Como explicar o aperto no estômago que senti hoje de manhã, ou a total ausência de atenção para o que quer que seja, ou as reviravoltas que a minha mente não deu para o futuro, para o passado, para o presente, o que decidi e o que não decidi, o que seria melhor e pior... Como reagir? Perguntei-me a mim própria. Respondo, não sei... Ao começarmos tudo isto a única certeza que tivemos terá sido quase sempre a ausência de certezas... E como isso soube (tem sabido!)bem... Mesmo do lado mais masoquista da coisa...
Tenho me dado conta de muita coisa em relação a esta nossa primeira pessoa do plural, ultimamente... (Tal como tu, provavelmente) Mas assusta-me muito saber que sei, admiti-lo assim sem grandes reservas, sem máscaras, ironias, brincadeiras... Temos algo, apesar de não o querermos dizer com palavras já predefinidas, no fundo achamo-nos tão especiais que temos direito este «algo» só nosso:P
Indiferente?
Nunca o foste para mim, talvez por isso não o consiga ser na totalidade em relação a ti, neste momento, ou provavelmente em qualquer um, por muito que quisesse. E queria, quero ainda, quis hoje sê-lo e tentei - Fracasso total, já se vê. Queria conseguir tratar-te de maneira diferente, queria afastar-te agora e não me magoar nem a ti com tudo isso. Mas para quê, porquê? O mal (ou o bem... Quem sabe) já está feito... Já fui gostando de ti, habituando-me à tua presença de várias maneiras, na minha vida, em que entraste sem avisar! Quer goste de todas estas lamchices e da tua constante pessoa tão fazendo-se notar em quase todas as situações, quer não...
Indiferente? No fundo, nunca. (Mas queria, tanto, conseguir sê-lo...! - Mesmo que só ao telefone... Era pedir muito?)

sexta-feira, 16 de março de 2007

E a seguir...?

"houve um dia alguém, alguém que me fez ver, que para se amar também para isso há-que saber... houve um dia uma voz que no seu tom fez esquecer passado tão atroz, tão longe está já sem se ver..."


Porque será que não podes ser simplesmente essa voz que me faz esquecer o passado, ao invés de mo lembrares com essa persistência tão característica? Pára de me assombrar com os fantasmas que fui criando aqui por dentro.... (Este labirinto de emoções!) Não sabes bem - ou de todo - o efeito que tens em mim... Não sabes o quão frágil sou, mesmo que não o pareça, que não o dê a entender... E daí!, talvez não o seja, mas e se o fôr? Estás lá para me apoiar se precisar de ti? Ou abres assim esta tal caixinha dos meus erros, dos meus defeitos, e com tanto que tento esquecer... Tudo bem com isso, mas e a seguir, afastas-te? É que eu nunca te vou pedir para ficar, e não sei se quero que fiques...Não sei o que quero, já sabes que não me conheço... O que te deixarei mais descobrir sobre mim? Por favor, não me magoes mais do que consigo suportar.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Fragilidades

Prende-me os braços, as pernas, o pescoço, deixa que me canse de olhar para ti, diz-me tudo o que tens a dizer e que chore à tua frente, dias e noites, deixa também que te diga o que me vai na alma, sem poder fugir, sem desculpas vãs ou barreiras mais e menos frágeis... Deixa que te grite e te insulte e espanca-me o coração de mármore... Não sei quem és, não tens face - mas isso não é importante - aproxima só de mim o teu peito firme, quente, para que deslize o meu nariz pelo tecido suave da tua camisola, e sorria enfim. Deixa que um dia me liberte... Prometo que um dia deixarei de ser este Eu.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Empatia

"Empatia é a faculdade de experimentar os sentimentos (...)de outra pessoa. (...)Adquire grande importância, do ponto de vista de compreensão do próximo, já que essa qualidade do sentimento humano diz respeito, predominantemente, ao inter-relacionamento pessoal(...)."

Assusta-me a tal transparência do meu olhar que mais ninguém vê, senão tu. O que posso e não posso dizer com ele, o que devo e não devo... O que quero e não quero, vezes demais.
Assusta-me a tua presença e a tua ausência, tal como a capacidade de adaptação do teu ao meu espírito controverso. Nunca sei que estás lá, mas (de alguma forma) estás.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Tanto que eu não te disse


Tocava-te a medo, estremecia ao teu toque, e tu nunca te apercebeste. Eu nunca to disse. Aceitava o teu carinho, o teu calor, o teu amor. Por breves instantes ter-te-ei amado, mas só o consegui dizer quando esse fogo ardente me deixou de consumir. Talvez por medo, talvez por saber já quão efémero seria. E nunca to confessei.
Desencontrava-me de ti, pelos caminhos incertos que íamos percorrendo, e construí certezas que desmoronavam as tuas insistentes questões, os teus sorrisos, a tua entrega quase total.
Nunca consegui fazer com que o compreendesses – Nunca o quis. Nunca achei que fosses capaz de me perceber na totalidade, portanto nunca me esforcei muito para que conseguisses ler-me como um livro aberto, nunca baixei as minhas defesas, ou deixei que me preenchesses a mente, jamais o coração.
Devias ter ouvido quando te gritei em silêncio que não me tentasses cativar... Devias ter lido o meu olhar, devias ter sentido o que não foi dito...
Entregaste-te em pleno e eu acabei por desprezar essa entrega tão total... Por esta incapacidade de fazer o mesmo, de partilhar contigo tantas coisas minhas, sobre mim. Incapaz de te mostrar a ti este meu lado mais fragilizado, no fundo talvez por achar que não o mereces, que não valerias a pena, ou talvez por achar que nunca ninguém valerá... (ou, por vezes, que nunca te mereceria eu a ti). A rotina tornou-se um acessório que me incomodava, que me confortava até a um ponto quase insuportável, os abraços e o enrodilhar das mãos asfixiava-me... Tirava-me o ar.
As tuas pequenas características, manias, feitios... Iam-se tornando mais evidentes, menos secundárias... E tu não parecias querer ver todos os meus defeitos - que por vezes me parecem nunca mais acabar. Quanto mais vias perfeição em mim, menos eu a vislumbrava, em nós. Queria gritar, bater, esmurrar, revoltar-me contra tudo isto... Tudo o que me passava pela cabeça... Contra ti, contra mim por ser como sou.
No fundo queria dizer-te tudo sem ter de o dizer. No fundo!, acobardei-me, acobardo-me ainda, mesmo agora que já não tenho nada a perder - Apenas o que sentes por mim - Mas não estará já isso também, perdido para ti, para mim? Para este "nós", já pertencente a um passado (ao que parece) tão distante? Sempre esperaste um dia por fim compreender o porquê da minha súbita frieza, da minha distância, dos sentimentos, das inúmeras omissões que desconheces. Mas nunca vais perceber... O porquê... Ou o tanto que eu não te disse...

Poeta do Dia: William Shakespeare

"Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E aprendes que amar não significa apoiar-se e que companhia nem sempre significa segurança.
Começas a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas.
E começas a aceitar as tuas derrotas de cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de uma criança e não com a tristeza de um adulto.
E aprendes a construir as tuas estradas no hoje, porque o amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de se partir ao meio em vão.
Depois de algum tempo aprendes que não importa o quanto te importas, algumas pessoas simplesmente não se importam. E aceitas que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai magoar-te de vez em quando, e deves perdoá-la por isso.
Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobres que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás pelo resto da vida.
Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que tu tens na vida, mas quem tens na vida.
Descobres que os amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprendes que não temos de mudar os amigos, se compreendermos que os amigos mudam.
E descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida, são tiradas de ti muito depressa; por isso, sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas;

Aprendes que as circunstâncias e o ambiente têm muita influência sobre nós, mas que não deixamos de ser responsáveis por nós próprios.
Aprendes que paciência requer muita prática.Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não dá o direito de seres cruel. Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém.
Algumas vezes, tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo.
Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, tu serás em, algum momento, condenado.

Aprendes que não importa em quantos pedaços teu coração foi partido, o mundo não pára para que o consertes.

E, finalmente, aprendes que o tempo, não é algo que possa voltar para trás.
Portanto, planta o teu jardim e decora tua alma, ao invés de esperar que alguém te traga flores.

E percebes que... Realmente podes suportar... que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.E que realmente a vida tem valor, e que tu tens valor diante da vida!
E só nos faz perder o bem que poderíamos conquistar, o medo de tentar!"
Fotografia de António Manuel Pinto da Silva,