quarta-feira, 26 de outubro de 2005

No Colchão da Tua Raiva

Caio, porque as paredes,
As paredes já não me sustêm como deviam
Deslizo, porque o mundo se inclinou sem a minha permissão, tudo está agora fora de sítio, e tu não estás em lugar nenhum. Chamo-te mas o eco das minhas palavras mudou de voz e achas que sou
Apenas outra pessoa. E não te queres lembrar de quem eu era.
Quase não te conheço porque me castigaste dentro do quarto da tua ausência e revelaste um lado de ti que eu não desejava conhecer,
No colchão da tua raiva construímos juntos um pesadelo de ilusões. E depois levantaste-te, partiste para sempre, o mundo gingou uma vez mais e agora ri-se de mim.
Recolhi para junto de mim os pedaços que me arrancaste violentamente enquanto me beijavas com esses lábios que já não sabem a mel. Alinhei os pensamentos partidos e guardei-os na caixa vazia da minha alma. Agarro-te e não te sinto. Sei que já não estás comigo. Não te quero, desprezo-te, bato-te, espanco-te. Desfaço em pedaços esse colchão inexistente, espio a vida que constróis para ti próprio
Da qual eu não faço parte, pelo buraco da fechadura vejo que estás bem, óptimo, lindo como sempre e eu não sei o que fazer. Não sei o que fazer agora. Como sair deste quarto onde me fechaste e deitaste fora a chave? Desprezo-te mais uma vez. Destruo-me aos poucos até não restar nada de mim.

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