quinta-feira, 27 de outubro de 2005

Poetisa do Dia - Sophia de Mello Breyner Andersen

"- É um perfume maravilhoso. No mar não há nenhum perfume assim. Mas estou tonta e um bocadinho triste. As coisas da terra são esquisitas. são diferentes das coisas do mar. No mar há monstros e perigos, mas coisas bonitas são alegres. Na terra há tristeza dentro das coisas bonitas.
- Isso é por causa da saudade - disse o rapaz.
- Mas o que é a saudade? - perguntou a Menina do Mar.
- A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora." Menina do Mar

quarta-feira, 26 de outubro de 2005

No Colchão da Tua Raiva

Caio, porque as paredes,
As paredes já não me sustêm como deviam
Deslizo, porque o mundo se inclinou sem a minha permissão, tudo está agora fora de sítio, e tu não estás em lugar nenhum. Chamo-te mas o eco das minhas palavras mudou de voz e achas que sou
Apenas outra pessoa. E não te queres lembrar de quem eu era.
Quase não te conheço porque me castigaste dentro do quarto da tua ausência e revelaste um lado de ti que eu não desejava conhecer,
No colchão da tua raiva construímos juntos um pesadelo de ilusões. E depois levantaste-te, partiste para sempre, o mundo gingou uma vez mais e agora ri-se de mim.
Recolhi para junto de mim os pedaços que me arrancaste violentamente enquanto me beijavas com esses lábios que já não sabem a mel. Alinhei os pensamentos partidos e guardei-os na caixa vazia da minha alma. Agarro-te e não te sinto. Sei que já não estás comigo. Não te quero, desprezo-te, bato-te, espanco-te. Desfaço em pedaços esse colchão inexistente, espio a vida que constróis para ti próprio
Da qual eu não faço parte, pelo buraco da fechadura vejo que estás bem, óptimo, lindo como sempre e eu não sei o que fazer. Não sei o que fazer agora. Como sair deste quarto onde me fechaste e deitaste fora a chave? Desprezo-te mais uma vez. Destruo-me aos poucos até não restar nada de mim.

terça-feira, 25 de outubro de 2005

Al Berto - Lunário (excerto)



"No centro da cidade, um grito. Nele morrerei, escrevendo o que a vida me deixar. E sei que cada palavra escrita é um dardo envenenado, tem a dimensão de um túmulo, e todos os teus gestos são uma sinalização em direcção à morte - embora seja sempre absurdo morrer. Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar. Medito no meu regresso. Possuo para sempre tudo o que perdi. E uma abelha pousa no azul do lí­rio, e no cardo que sobreviveu à geada. Penso em ti. Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto - aqui sentado, junto à janela fechada. Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo. Recolho o mel, guardo a alegria, e digo-te baixinho: «Apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge»."

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Quero-Te

Olho-me, toco-me com suavidade, sei que falta algo, destapo a minha barriga tão lisa e sei que te vou querer como nunca mal me aperceba que nunca estiveste dentro de mim.
Serias tudo, serias raiva, desespero, amor inconfundível, promessas fingidas, o descobrir de tanto que não saberia concerteza explicar.
Serias pois o símbolo não só dos erros que cometi (foram tantos), que não voltaria a cometer, aqueles que não conseguiria nunca remediar e os que me ajudaram a crescer(nem todos... muitos transportaram-me consigo numa viagem sem volta).
Serias o meu tudo, o meu qualquer coisa, o meu coisa nenhuma, serias infeliz e feliz, inexplicavelmente triste – como também eu o sou. Serias confidente, talvez mais um estranho que veria todos os dias, talvez um conhecido que veria duas ou três vezes na vida, antes de te levarem de mim.
Sentirias também tu a enorme falta de algo, sem saber porquê – Provavelmente sentirias a minha falta, tão longe andaria eu de ti. Tão estupidamente perto e longe.
Serias tanto, serias algo tão insignificante, serias algo tão efémero e tão forte na minha vida. Serias talvez aquele objectivo que nunca encontrei, um motivo para viver, a minha ruína e a minha benção. Serias meu, concebido dentro de mim, por mim – E por mais alguém a quem quero muito, mas que não o sabe. Que não sei se quero. Será que sempre soubémos o que queríamos? Talvez um dia o saibamos, talvez... Não.
Serias, como diria também alguém meu conhecido, “um pequena parcela de mim a andar por aí”, serias um prolongamento de mim e eu, subitamente tão criança, refugiar-me-ia em ti.
Serias o que quisesses ser, não serás nada porque te destruí, porque me assustaste desde o primeiro segundo, por te adorar tanto, por pensar primeiro em ti, por saber que mereces melhor, sei que terás melhor em algum outro lado, noutra vida. Ainda não te mereço, sinto a tua falta e sim, sei que te quero como nunca.

Um dia.. (Lutando pelo final de um preconceito)

Tu não o sabes, mas eu observo-te todos os dias. Sei quando estás mal, sei quando o dia te parece ter um lampejo de felicidade que flutua no ar. Quando o rímel está firmemente traçado em torno dos teus olhos é porque pensavas nele enquanto traçavas o risco a negro, sem olhares para o espelho (há quanto tempo não te olhas ao espelho?).
O anel prateado que usas no dedo aperta-te a alma, as tuas mãos tremem ao tocar-lhe mas teu olhar nada mostra, nada deixa adivinhar.
Serei eu a única a notar como as tuas mãos se crispam quando ele te abraça, como te retrais tão involuntariamente quando ele te beija? A única a notar como os nós dos teus dedos ficam brancos e, mais uma vez, o teu olhar vazio?
O teu sorriso verdadeiro faz com que ligeiras covas apareçam junto aos cantos da tua boca, faz com que os olhos brilhem e traz cor à tua face pálida, aos teus lábios excepcionalmente claros. Será que ele alguma vez viu esse teu sorriso? Talvez tenha reparado em ti antes de tudo ter acontecido, antes te de perderes de ti.
Quem sabe por onde pairará a tua alma despedaçada, ou quão grande será o bloco de gelo em que ela se converteu.
Não imaginavas o que te poderia acontecer – ou imaginavas, mas preferiste arriscar? Entraste no jogo como tantos outros, e como tantos outros descobriste as duras consequências das tuas escolhas. Será que ainda te recordas de como eras? Antes do teu sangue, tão puro, ser contaminado por ilusões, com sonhos por cumprir. Antes de selvaticamente te destruírem, física e psicologicamente.
Sei que pensas naquele dia como sendo o dia da tua morte. O dia em que decidiste morrer para o mundo. O último dia em que choraste por algo, ou por alguém, por ti. O último dia em que sentiste pena de ti.
Talvez algum dia acordes desse teu pesadelo, te libertes do fantasma a que em surdina todos chamam de toxicodependência. Talvez finalmente chores por ti, pelo feto que foi arrancado de dentro de um corpo já tão só, pela vida que te foi roubada – precisamente por quem julgavas amar.
E talvez um dia olhes em volta e me vejas a mim, talvez me sorrias de novo – E mais uma vez, apertarei as tuas mãos magras (tão magras!), sem serem necessárias palavras de qualquer tipo. Sim, nesse dia guardarei as palavras que inutilmente tentam expressar o que sinto por ti, bem fundo, no meu olhar feliz.
Nesse dia, arrancaremos juntas o anel de prata do teu dedo e voltaremos a colocar o de corda, igual ao que tenho no meu. Nesse dia, hás-de encontrar-te de novo – Guardada, a sete chaves, dentro de mim.

quarta-feira, 19 de outubro de 2005

Dia Estranho...

Meti-me num táxi e referi com voz firme um sítio onde só tinha estado uma vez ou duas. Sem pensar. Um vazio tomou assim parte de mim, alastrou-se pelo meu cérebro, por todo o meu corpo. Sem pensar, sem nunca mais tentar fazê-lo sequer. Amei-te um dia e pergunto-me o que terá acontecido a esse amor que tomei como certo.

Esses Olhos...

Que olhar tão triste me lançam os teus olhos, como que dizendo que o amanha não existe, não está lá – apelando a para a compreensão e para o carinho dos meus, que se sentem tão sós. As pestanas que os adornam, essas, são compridas e brilhantes, reflectindo a luz do sol – e também os teus olhos reflectem o azul do céu, o verde do mar. Esses olhos que me pedem, que me imploram que me perca neles. Que me gritam algo que não quero escutar, procurar coisas que não quero descobrir. Esses olhos que lembram inocência, pecado, que recordam momentos, que receiam o passado. Esses, que qual falcão atento vigiam e qual gato ronronam suavemente nos seus silêncios – esses olhos em que um dia me encontrei, reflectida em ti. Esses que ora choram, ora riem, ora desesperam por o mundo não ser como gostariam. E que me chamam, lutam por mim, por ti, pelo mundo que nós dois construímos. Onde estou, onde estás? O que nos aconteceu?...

Ode à Maldade (Sem nenhuma razão em particular)

Este já é um texto mt antigo, do ano passado... Mas adorei escrevê-lo, apesar de ser obviamente fictício, adorei descobrir novas facetas dentro de mim, revelar uma pequena parcela do lado mau que no fundo todos temos mas que não queremos mostrar, de que nos envergonhamos.
Sim, é a mais pura das verdades que não podes confiar em mim. A qualquer momento posso contar os teus mais íntimos segredos à pessoa que mais odeias – e isso não me incomodaria minimamente. Não o faço por não gostar de ti – tal como também não o faço por gostar. És-me completamente indiferente, apesar de achares o contrário. Será possível creres que uma coisa não depende da outra? Gosto de fazer de conta que sou outra pessoa, de dar a mais profunda satisfação às pessoas, fazer o que elas querem, de lhes agradar. Apenas para provar o sabor das suas desilusões quando as apunhalo pelas costas. Por esse gosto existir (por muito macabro que o aches, e por muito que o reproves, se o reconheceres em mim) conto a outros o que me contas tão secretamente.
Pergunto-me quando irás perceber que eu não sou o que tu pensas, que tudo o que conheces de mim é uma ilusão que criei, que a coisa mais errada que fizeste foi confiar em mim. Quando te vais aperceber que eu te afastei de toda a gente, que consegui precisamente o que queria – se eu te largar, cairás e ninguém te ajudará. Estás dependente de mim, e em mim colocaste as tuas esperanças, e todos os teus sonhos.
Por vezes desejo simplesmente que descubras tudo o que engendrei, que a culpada de tudo o que te tem acontecido de mau sou eu, fui eu que planeei cada detalhe sombrio dentro de mim. Desejo que afastes essa ingenuidade irritante que há em ti, que te consciencializes que as pessoas podem de facto ser más por natureza. A maldade vive dentro de cada um de nós – apesar de a tua continuar adormecida.. Após tanto sofrimento, tanta dor.
Olha à tua volta e pára por fim com essas tentativas de tornar o mundo melhor – é ridículo, é infantil, todos sabem que essa ideia é uma utopia, é inalcançável, é bom demais para alguém merecer (até mesmo tu). Aliás, estão todos tão embrenhados nos seus pequenos mundos que é de duvidar que alguém projecte algo como “felicidade a longo prazo”, que é, resumindo, o que tu desejas para ti. Não te contentas com um momento de felicidade, uma “droga leve” que te faça ir até às nuvens.. Não farias isso.. Pois sabes que isso é algo de apenas um momento, não a felicidade que procuras (a meu entender, em vão). Sonhas demais..
Acorda! Desconfia! Mente! Como esperas sobreviver neste mundo? Sendo o melhor que conseguires ser, fazendo para sempre as escolhas certas, e não as escolhas mais convenientes para ti? Ninguém quer saber como és realmente, ninguém quer saber se o que conhece de ti é real ou não.. Desde que seja algo agradável à vista e ao ouvido. E sabes que mais? O facto de fazeres as coisas sempre bem não te vai ajudar.. Pois saberás que nunca fizeste nada que justificasse a situação em que estás. É essa a ideia de felicidade que tens em mente?
Sei que és infeliz, agora. Sei que o que te mantém acordado, o que te impede de chorar, sou eu. E tu não sabes nada sobre mim. Não sabes que não preciso de ti para nada, não sabes que estou à espera do momento certo para te deixar. Quando eu terminar o que comecei contigo, verás as coisas de uma maneira diferente, prometo. Ou não. Porque eu não cumpro as minhas promessas – Já devias saber.
Se vires bem, estou a dar-te uma lição de vida, a tentar desvanecer por fim essa tua inocência, a ajudar-te a finalmente ser um ser humano decente e a não confiar nas pessoas. No futuro ainda me agradecerás, embora isso de facto não me interesse. És para mim menos de nada, és fraco, és cego. As lágrimas que choraste no meu ombro entraram em contacto apenas com a superfície de pedra que rodeia o meu coração desde que nasci, e os momentos que consideraste especiais foram tão fortemente mesclados com o meu fingido sentimento de alegria que não deixou espaço para mais nada.
Podes acreditar que tudo isto não foi fruto de uma experiência traumatizante no passado, sempre fui assim. Tal como os camaleões, também eu mudo conforme o sítio onde estou.
E por favor, não me desculpes. Será assim tão complicado pensar que sou assim por razão nenhuma, apenas por ser, apenas por gostar tanto de ser? Talvez por saber que são pessoas como eu que estão no topo, saber que pessoas como tu temem pessoas como eu. Que provoco dor. Que recebo atenção, que tenho poder. Tudo isto me traz satisfação. Tudo isto contribui para a minha felicidade interior. Saber que sou assim... Sem nenhuma razão em particular.

“Ah o medo vai ter tudo (...) Penso no que o medo vai ter e tenho medo que é justamente o que o medo quer” Alexandre O'Neill

terça-feira, 18 de outubro de 2005

De Profundis (clamavi)

Não sei quanto tempo passou desde que te vi pela última vez, encontro-me sozinha e sinto a tua falta, revejo-me no sentimento egoísta que me preenche. Como explicar esta mente obviamente descontrolada que faz parte de mim? Como dizer-te que nem eu sei porque fiz o que fiz (Há meses? Anos? O tempo anda descontrolado, e eu acho que não desejo controlar, nunca mais), porque me magoei a mim e a ti, porque te quero cada dia mais que o anterior. Como explicar-me sem parecer absolutamente superficial, infantil...
Não aguento mais olhar para ti sabendo que fui eu quem cometeu erros imperdoáveis, alguns de que nem tens conhecimento, como explicar algo a alguém se eu própria não sei, porque fiz o que fiz, como me arrependi cada dia que passou?
Agora perdi-te, quero-te de volta, odeio-me e não percebo porque não me odeias tu também – ou será que odeias mas és demasiado simpático para mo dizer? Não sinto que tenha o direito de falar contigo, de estar contigo, de pensar sequer em ti de outra forma senão amigo, mas como não o fazer, quando olho para ti e só consigo pensar em tudo o que sempre gostei em ti? Esse sorriso meio escondido, o teu olhar concentrado nas banais pedras da calçada, a maneira como aprecias silenciosamente o que cada pessoa diz sem expressão absolutamente nenhuma, sem julgar ninguém à partida, espero um dia conseguir ver através de ti.
Não sei, o que te tornará tão diferente de tantos outros? Porque me encontro a comparar todos os outros contigo? Porque acabo por recuar tantas vezes ao lembrar-me de ti? E mais uma vez, porque terei eu feito o que fiz, porque te afastei e me virei de costas para ti, porque não te agarrei e beijei ainda com mais força?? (sim, naquele dia em que chovia e parámos para esperar que parasse, naquele dia em que te deixei ir embora e ficava nem eu sei porquê, ou com quem)
Senti-me como se não fosse eu, e estivesse apenas a ver um filme em que por acaso era uma das personagens, como explicar que se fosse eu... Não teria feito aquilo, não teria desperdiçado o que tinha – E tinha tanto. Dizem que só nos damos conta do que temos, quando perdemos. Não sei se alguma vez te tive, mas agora tens-me a mim. Mas não o sabes, não o imaginas, não poderás saber.
Vejo isto como um castigo para mim própria, finalmente punida, finalmente a sofrer por causar sofrimento aos outros. Não foste o primeiro a quem magoei. Mas foste o único que desejei não ter rejeitado, magoado. Que desejo tão intensamente ter de volta.
Como explicar como me senti quando me pegaste na mão naquela noite? Como me apertaste, o que isso significou apesar de tudo o que fiz depois? Toda aquela noite, terá sido tão especial assim para ti? «Será que me estou a envolver demais, não pode ser», não podia ser, foi aí que resolvi pôr um ponto final, «isto não pode estar a acontecer comigo», apareceu de novo o medo. O medo que governa a minha vida quer eu queira quer não. Tive medo de me magoar, de te magoar a ti, de... Não sei mais de quê, lembro-me de inventar desculpas a mim própria, razões para te deixar. «Moramos em sítios diferentes, vemo-nos pouco». Pronto. Assunto encerrado, não podíamos continuar naquilo.
E agora olho para trás e vejo quão ridícula fui, quando estava contigo as semanas passavam a correr, lembro-me de me mandares uma mensagem(tantas, mas aquela em particular), como me senti, como quis que chegasse rapidamente o fim-de-semana, como ele chegou tão vagarosamente – e de repente apercebo-me que se pensasse bem no assunto, não encontraria nenhuma razão para te deixar senão a óbvia, que só agora admito: Medo, muito medo. Do que estava a começar a sentir por ti. O que sinto agora. O que quer que seja.
Gostava de conseguir chegar perto de ti e pedir-te mais uma oportunidade. Não consigo, era capaz de ficar horas a olhar para ti, só de saber que estás perto de mim encontro-me a sorrir. Mas tenho medo, outra vez, desta vez tenho medo que me rejeites. Tenho medo de tanta coisa... Será que se desta vez esquecer os meus medos te vou ter perto de mim?
Sim, talvez seja essa a solução. Por enquanto decidi levar tudo com calma – Tal como levei tudo com calma quando te conheci, um passo de cada vez, tentando conquistar-te aos poucos.
Tenho obviamente medo de encontrar alguém que me faça voltar atrás com tudo o que sinto por ti, que faça com que eu te veja de maneira diferente. Tenho medo de te tratar abaixo do que mereces. Medo de ser eu de novo. Tenho muito medo de ti.
Mas e se me lançar de cabeça... Ao menos não penso mais nisso se não me quiseres mais eu entendo e deixo-te em paz, definharei, não interessa, simplesmente será algo para além de viver nesta confusão de sentimentos que não compreendo.




Escrevi este texto sobre alguém que já significou muito p'ra mim... Mesmo que ele nunca tenha sabido isso, mesmo que eu só tarde demais tenha admitido isso a mim pprópria.
Cerca de duas semanas após eu o ter escrito, o que eu vi como a minha segunda oportunidade com ele chegou - eu "lancei-me de cabeça", ele usou-me e deitou-me fora - só aí percebei quão estúpida fui, quão iludida estava.
Na altura fiz uma promessa secreta de nunca mais deixar que as coisas chegassem a este ponto, mas mais tarde percebi - Ele não merece o que quer que seja, não chega já o que ele me fez, ainda lhe vou dar a satisfação de nunca mais ser feliz? Quem é que ele acha que é?
Nada, ninguém merece que se sacrifique algo tão importante como a felicidade, a alegria de viver, o sentimento de paixão - que é fantástico, nos faz sentir vivos.
E sim, um dia hei-de sentir tudo isso pela pessoa certa. Infelizmente, ainda não aconteceu. Mas um dia...

About Anne

She walks around, seeming weightless. Her pale face makes her brown eyes look bigger, and the dark hair falls by her back. She put her own arms around herself – Where is that lovely mouth that used to kiss her in such a sweet way?
The old oak, whose leaf seemed earlier so vivid and stunning, have now turned to yellow, a sad one actually, which brings nothing but sorrow. The playground is dark. The children abandoned this place, as they were never been there, ever. She looks at the floor. An old magazine lies ripped off, spread all over it.
Something inside her yells that nothing’s the way it should be – ignored voice, falling through the void.
The old people look at her with profound contempt, and I wonder what happened to those smiles they all used to do while staring, only a couple of months earlier.
The tears she cries now so often makes the eyeliner in her melancholic eyes to fall down the face, but she doesn’t worry anymore. No point in trying. Why should she, if the pain inside her soul is so incredibly vast and breaks her into pieces? So small ones she thinks she will disappear someday. She hopes she will.

Suddenly there is a change of light. A shy child slowly crawls through the slide, and smiles. His front teeth are missing. Yet, he keeps on smiling. She can’t help it. She is lost in that smile, in that little detail that overwhelmed her.
She doesn’t look at the north entrance, and so she doesn’t see him passing by. She senses his strong, secret perfume – but she already learned how to ignore it. When he places his arms around her waist, her chest stops moving.
The world freezes. A butterfly stands still in the air, it’s colours throwing soft reflexes above the young couple, and they look like the prime actors in a sad play - so unfairly sad.
Salt water suddenly slides by his square chin, silently breaking the immobility of time. His lips whisper something that floats in the air like a melody. One of the old men walks away as fast as he can from the strangely beautiful scenario.

Time has no importance. The blue and red lights that quickly surround the green garden took it’s meaning away. They are too late. Such small words to such a frustrate feeling, who will haunt my reverie forever.

This dazzling image standing in front of me, of a soul slowly rising above everything else, travelling through the blue skies of happiness, will haunt me as long as I live. A soul absorbed by joy, by too longed repressed desires.
Later I knew. Her name? Anne. Never woke up. He still wonders… «Did she listen “I’m sorry” while laid down on my lap?» No one saw him again.