Fotografia: Black N White, Autor desconhecido
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"Rio dos que pensam que podem me prejudicar. Não sabem quem eu sou, não sabem o que eu penso, não podem sequer tocar as coisas que são realmente minhas e com as quais eu vivo." Epictetus
Hoje falo dos elos fracos da cadeia que a sociedade nos obriga a manter. Da ganância, do querer tudo «porque sim». Das aparências que somos obrigados a criar, a fingir, a querer ser - Mas que não somos.
"To be myself completely I will love you just the same"
Ao que consta, as "terrinhas" são locais péssimos para se ter uma má reputação. Mas infelizmente isso sucede em qualquer sítio onde exista um grupo mais ou menos grande. Digamos, uma escola. Um grupo de jovens, ou mesmo o local de trabalho. Uma família. E não digo que exista desde início uma semente de discórdia prestes a rebentar, mas - isso sim - Basta uma pessoa para que de facto tudo seja destruído. Se nenhuma das pessoas do grupo tiver inveja, ciúme... Então, tudo bem. Mas quanto maior o grupo, menor a hipótese de isso acontecer. Obviamente, todos sentimos a nossa quota parte desses sentimentos de que tantas vezes nos envergonhamos.
As "terrinhas" são, ao seu modo, uma pequena família. Passas numa casa para pedir uma informação e a pessoa que abre a porta sabe desenhar praticamente toda a tua árvore geneológica - E as chances de não só estar certa mas da pessoa em questão ter conhecido metade dela são muito altas. E, claro, se se conhecem uns aos outros, falam uns com os outros, desabafam, contam o que ouvem. E, tal como muitas vezes tu fazes, ao ouvir uma frase começada por «ouvi dizer que», essa parte é a modos que esquecida e provavelmente o comentário seguinte será «A sério? Ele/Ela fez isso?» e não(ou muito raramente) «Ah pois mas só ouviste dizer não é? Não aconteceu directamente contigo». Torna-se num dado adquirido. E como "quem conta um conto acrescenta um ponto"... Provavelmente entretanto já não se acrescentou um ponto, acrescentou-se a frase toda, já tão comprida que nem dá para perceber onde é que começou. E não interessa onde começou! Mesmo porque o resto que foi acrescentado a seguir é normalmente muito mais interessante.... Muito mais conveniente, muitas vezes, mais chocante.
"Everybody knows...but no-one's saying nothing And it was a sound so very loud...that no-one can hear"
E basta uma pessoa. Acho que essa é a parte mais doentia. Uma pesssoa. Depois de passar de uma pessoa, difunde-se com uma rapidez impressionante e pronto! Já não se pode fazer nada. A confusão, o caos está instalado. Tu podes nem saber, mas violaste quatro pessoas diferentes, roubaste carros (em datas que não coincidem, será que as pessoas não se perguntam como é que podias estar no Porto e em Lisboa simultaneamente no dia de Natal?) , incendiaste casas e até serias capaz de vender os próprios pais se te dessem bastante dinheiro por eles. Uma vergonha! Quem é que quer estar ao pé de uma pessoa assim? Que má influência serás para os teus conhecidos, para as pessoas que se atrevem a aproximar-se de ti? (As poucas, as mais corajosas)
"And the spies came out of the water,and you're feeling so bad cause you know,that the spies hide out in every corner, But you can't touch them though Cause they're all spies..."
Aos poucos, as pessoas começam a descombinar cafés, a inventar compromissos, ouves alguém a sussurrar nas tuas costas mas nem ligas, não dás por nada e continuas a ser tu próprio. Sentes que há algo que não bate certo mas, o que poderia ser? Deve ser impressão minha, pensas, e continuas a tua vida. Um dia um amigo teu vem ter contigo e pergunta-te, a medo, se ainda te lembras como te sentiste no teu curto mas grande papel como piromaníaco, tu pedes-lhe que explique e ele acaba por te contar a história toda. Primeiro sorris, depois ris. E a seguir não consegues conter o estremecimento das tuas mãos, a raiva que te invade o peito.
"When you think that no one needs you, sees you or believes you No one's there to understand I am "
Tentas descobrir quem disse isso ao teu amigo, ele dá-te pelo menos três nomes diferentes, vais falar com essas pessoas e tens cerca de dois nomes em comum entre os onze que entretanto achavam isso de ti. Desistes quando essas duas pessoas também ouviram de outra pessoa qualquer que tu nem sequer conheces. Mas o mais surpreendente, para além do facto de ninguém te ter dito nada, é terem todos acreditado naquelas informações que são tão claramente falsas. E continuam a acreditar. Lês nos olhos de cada "amigo" com quem falas, o medo, a descrença, como quem diz «Não enganas ninguém, bem que me disseram que tu ias desmentir tudo».
"Night turns to day and I still have these questions,Who just could blame, shall I go forwards or backwards?And not since today and I still get no answers"
Já não confias em ninguém, não sabes quem começou, e o facto de ninguém te ter contado nada também baixa bastante a tua vontade de o fazer. Começas só então a notar nos olhares que te lançam, apercebes-te (ou por vezes chegas apenas a imaginar) que toda a gente à tua volta sabe (Sabe? Sabe o quê? O problema é que não há nada para saber...Mas de qualquer maneira toda a gente sabe mais do que tu) e tens que lutar o triplo para conseguires estar com quem queres. Gastas litros de saliva em conversas infindáveis com o intuito de explicar que não foste tu a fazer o quer que seja que inventaram agora de novo, dás por ti a implorar por uma oportunidade que não deverias sequer ter de pedir. Tentas «limpar o teu nome».
"you don't know and don't ask how I'm going to make it work again"
Enquanto jogas todo este jogo traiçoeiro, em que de alguma forma sabes que não podes pôr nenhum pé em falso, perguntas-te porque terá tudo isto começado. E apercebes-te. Talvez não tenhas dado a demasiadas pessoas exactamente o que elas queriam. Talvez não te tenhas comportado exactamente como todos esperavam. Talvez tenhas resisitido a seguir um padrão que alguém construiu para ti. Talvez tenhas de facto magoado alguém mas, cobarde, sabias que te ias magoar também a ti e afastaste-te sem nada dizer. Talvez alguém sentisse ciúmes. (Ciúmes de quê?, perguntas-te, e de novo as questões fazem eco no teu cérebro cansado) Talvez alguém quisesse algo que não estavas disposto a dar.
"We're just who we are, there's no pretending It takes a while to learn to live in your own skin"
E sabes que se pudesses voltar atrás, terias feito muito (não tudo) da mesma maneira. Talvez tivesses tentado muito mais não magoar ninguém, desta vez. Mas será que isso alguma vez esteve nas tuas mãos? Sabes que agora é muito tarde para pedidos de desculpa. E já não conseguirias pedi-los, de qualquer maneira.
Odeias renegar quem és. Gostas de quem és. Mas sabes que foi isso que te pôs em sarilhos. E apercebes-te que tens à escolha dois caminhos: Ou continuas a ser quem és, altivo, orgulhoso... Ou passas a ser o que toda a gente quer que sejas. Assim, talvez encontres a paz. Não dentro de ti. Nunca dentro de ti. Mas de outra forma... Começarás a duvidar de ti, a rebaixares-te e a perguntar a ti próprio se fizeste de facto alguma coisa. Já não sabes, já não te lembras bem. Já foi há tanto tempo...
"And I wanna hear what you have to say about me I wanna hear what you want What the hell do you want?"
Um grande amigo disse-me «às vezes não há ninguém melhor do que os amigos para nos lembrar de quem somos». Mas se não tivermos esse amigo acabamos eventualmente por nos esquecer. Mesmo porque, de qualquer maneira, seria muito mais fácil.
Não tenho nenhuma moral a expôr aqui. Não cheguei a nenhuma conclusão. Se um dia descobrir, aviso. Há pessoas que dizem «Paga na mesma moeda» Outras dizem «Esquece que aconteceu. Não digo que perdoes, mas esquece. Não vale a pena» Há aquelas (como eu era também) que esperançosas reflectem «Quando crescerem...Há-de passar». Mas isto não é uma questão de idade ou maturidade. É uma questão de índole, de ser ou não ser. Temos de aprender a lidar com isso. Por muito que custe, por muito que «escolhamos» sofrer. (Será que uma pessoa pode escolher uma coisa dessas? As escolhas nao são feitas precisamente em função de isso não acontecer?)
"you don't know and don't ask why I'm going to make it work again"
Não me parece que exista uma maneira correcta ou incorrecta de lidar com estas situações, antes procedimentos menos versáteis, mais cobardes, ou mais egoístas. Mas a verdade é que elas ocorrem. E doem. E hão de ocorrer sempre, porque o ser humano é assim, quanto mais for aprisionado dentro de convenções, ideias pré-definidas, prisões para a mente, mais sente a necessidade de se revoltar, de mostrar que é capaz de muito mais do que parece. Que se quiser pode modificar até a vida de uma pessoa (basta apenas desejar). Temos de ser fortes, para conseguirmos continuar a seguir o que achamos correcto e não aquilo que nos forçam a seguir.
(Mesmo depois de me insultares oculto por essa máscara de porcelana, e virares as costas à minha cara esbofeteada, chamo-te cobarde com voz firme e não há nenhuma lágrima que alguma vez vá verter por ti. Reconheci-te pela tua voz que uma vez me sussurrou ao ouvido e tenho pena da pessoa em que te tornaste - Que talvez sempre tenhas sido, mas que eu nunca quis ver - Apercebo-me da importância que poderei ter tido na tua vida, para que tenhas tentado desequilibrar tanto a minha. E sorrio por não me teres afectado como gostarias. Sorrio por estar aqui. de pé, firme e por me seres tão indiferente. Sorrio por mim e pelo que nunca conseguirás destruir)
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