quinta-feira, 30 de março de 2006

Coração sem imagens (Raul de Carvalho)



"Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem / as imagens?

Preciso habituar-me / a substituir-te / pelo vento,
que está em toda a parte / e cuja direcção é igualmente passageira / e verídica.

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos / invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve / a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão / felicidade a ninguém.

Era mais difícil perder-te, e, no entanto, perdi-te.

Era mais difícil inventar-te, / e eu te inventei.

Posso passar sem as imagens
assim como posso / passar sem ti.


E hei-de ser feliz ainda que isso não seja ser feliz."

quarta-feira, 29 de março de 2006

O Silêncio

O que temes tanto? O que sentes? O que és, ou o que foste até agora? Observo-te, estudo-te. Não sei como és, não te conheço. Invento contos de fadas em que tu és apenas um despreocupado ajudante de vilão, ou mesmo um jardineiro que não olha para o rosto da princesa (mencionado algures numa linha do texto, com o cozinheiro e a criadas)... Invento finais felizes que por vezes parecem tão possíveis, tão próximos. Outros que não deviam sequer existir. Seguro-te no braço, beijo-te a mão. Suave. Sorris-me e dizes-me que está tudo bem. Empurras-me para um precipício - dizes que está tudo bem. Eu vou caindo suavemente, lentamente, e sorrio-te de volta, olhando para onde já não estás. Já não sei se foste apenas alguém com quem eu sonhei, um produto da minha imaginação (Desejo que tenhas sido apenas isso). Lembro-me da tua cabeça, não da tua face. Do teu cheiro, do teu toque, mas apenas ocasionalmente da tua voz. Tenho saudades de algo que já não me lembro muito bem como é, e sinto-me estranha comigo mesma. Estendo as mãos, sinto os meus cabelos a voarem à minha volta, o chão cada vez mais perto de mim e tu não estás ali para me agarrar, também tu te foste - Disseste que me queres, que me adoras, que não me queres magoar e afastaste-te - e eu, em queda livre, esbofeteio a lógica, o raciocínio lógico, acredito em ti. O silêncio. É tudo o que me dás. E eu...? Eu não posso aceitar.
Fotografia tirada por John Hui Kim, «your silence»

quinta-feira, 23 de março de 2006

Pontos de viragem

As ondas que desgastam as rochas, violentamente. O luar que treme, inseguro, brilhante. Ilumina parcialmente o teu rosto, uma sombra crescente na tua face. Ombros em que me apoio. Sem querer. Ou querendo muito mais do que isso. O meu dedo nos teus lábios, seguindo as suas curvas, as suas imperfeições. Seguindo a curva do teu nariz. (O meu olhar, o teu) Tudo fica por dizer. Sempre. Pensamos demasiado. Sem querer. A noite que nos engole. Que nos trai. A noite que troça da inocência que já não nos lembramos de ter. Eu e tu. Sem querermos. Ou por querermos muito mais.

terça-feira, 21 de março de 2006

Escritor do dia - Miguel Sousa Tavares

"Foi um processo longo e dfícil, como sempre o são as aproximações entre duas pessoas habituadas a estarem sozinhas. Primeiro parece fácil, é o coração que arrasta a cabeça, a vontade de ser feliz que cala as dúvidas e os medos. Mas depois é a cabeça que trava o coração, as pequenas coisas que parecem derrotar as grandes, um sufoco inexplicável que parece instalar-se onde dantes estava a intimidade. É preciso saber passar tudo isso e conseguir chegar mais além, onde a cumplicidade - de tudo, o mais difícil de atingir - os torna verdadeiramente amantes." Não te deixarei morrer, David Crockett

sábado, 18 de março de 2006

Amar em Silêncio

"Nunca devemos amar em silêncio, nada é mais perigoso do que dividir com outrém os pensamentos vividos em silêncio. Um amor feliz precisa do turbilhão das palavras, das frases aparentemente inúteis e sem sentido, precisa de adjectivos, de elogios, do ruído das banalidades. Não há felicidade que não seja tantas vezes fútil, tantas vezes inútil" Não te deixarei morrer, David Crockett

terça-feira, 14 de março de 2006

I know you can show me....

Era capaz de estar para sempre abraçada a ti, confundir o meu corpo com o teu, dar-te intermináveis beijos, manter-te perto de mim. Ninguém percebe. Mesmo que não o digam, acham que é um exagero, que me estou a precipitar (Também eu acho... Mas esqueço-me disso sempre que falo contigo). Mas, por outro lado, faz tanto sentido... A única coisa que não faria sentido seria eu não estar contigo. Estar com outra pessoa qualquer. Sempre tive esta impressão, com todas as pessoas com quem tive - que faltava qualquer coisa, que algo não batia certo. Contigo, não. Sei que não. Tudo bate certo quando estou contigo. Quando te toco, quando te vejo, quando te olho e não consigo parar de sorrir. Tudo se encaixa na perfeição. Amo-te. Talvez um dia seja capaz de to dizer. Mas entretanto, guardo isso para mim. Amo-te com acções, com palavras doces como as que me entregaste sem eu pedir nada. Palavras que me deixariam tudo menos á-vontade.. Se não fosses tu. Tenho fome, sede de ti. Não é um sentimento possessivo, é um sentimento que me parece tão natural como se tivesse sido sempre assim, mas faltasses apenas tu para completar o puzzle. Sempre ali, sussurrando-me «Espera por mim». Desculpa-me se te ignorei tantas vezes. Se tentei ser feliz sem ti, o desespero a corroer-me a alma, se não acreditei que virias de facto um dia. Mas tenta perceber... Habituei-me a todo este tempo sem ti. Temos tempo, não temos? Para nos conhecermos, para confiarmos um no outro, sem pressas. Para poder ter a certeza que és tu. Que sempre foste tu. A minha mão na tua. Sssshhh....Amo-te.

«Errar é humano»??

Acho que já o disse, sinto que sou outra pessoa. Mas, não somos nós o conjunto de todas as nossas vivências, experiências, fracassos, conquistas...? Então sou de facto a mesma pessoa que fez coisas de que não me orgulho, por muito que fosse mais fácil proclamar-me uma pessoa diferente. Sou essa mesma pessoa, mas uma pessoa que aprendeu algo com tudo isso. E é esse mesmo o objectivo: Errar, aprender, continuar em frente. Esquecemo-nos disto constantemente, em parte devido ao mundo que gira à nossa volta, às pessoas que insistem em nos rotular (não fazemos nós isso mesmo constantemente?), que não estão dispostas a admitir que existe uma determinada evolução mental em (quase) toda a gente, em colocar sequer a hipótese de uma pessoa ter mudado. Para melhor. Colamo-nos ao passado e julgamo-nos uns aos outros conforme este tenha sido mais ou menos repleto de erros e passos em falso.
Para além disso, torna-se complicado mesmo para a pessoa em questão ter de conviver com experiências que viveu, pensamentos que ocorreram na sua mente que lhe parecem tão diferentes do que faria hoje em dia. É complicada a aceitação, sem a qual não é possível o que tão naturalmente se chama "paz de espírito". A proclamada felicidade.
É preciso alguém que nos ame, e digo isto sem falsos moralismos, sem fracas tentativas de fé no ser mais próximo de mim, não falo de um amor solidário, ou altruísta, aquele amor utópico que deveríamos sentir todos uns pelos outros. Falo de alguém que nos escute, que olhe para nós nos olhos enquanto relatamos tudo o que já fizemos de pior, aquilo que custa a sair, aquelas situações que não conseguimos descrever por palavras, alguém que no final nos abrace e nos diga que não faz mal, que já passou, e que a partir daquele momento tudo vai correr bem. Que, contra todas as nossas expectativas, gosta muito de nós apesar disso e que não vai desistir tão facilmente. Que somos lindos. Fantásticos. Que não nos desculpa, mas aceita. Como se fosse a coisa mais natural do mundo.
E pergunto-me: não será mesmo? Não dizem que «errar é humano»? Então porque não são os erros aceites como tal, antes como condenações? Antes como uma mancha no nosso passsado que nunca desaparecerá, algo que nunca se poderá modificar, sendo que faz parte do passado... (ora vejamos: passado- já passou! Seria muito mais simples)
Fotografia tirada dia 29 de Janeiro de 2006
(Desviaste o olhar, quis segui-lo mas acabei por não me atrever, não quis saber o que pensavas. Olhaste-me e disseste-me «Adoro-te». Molhei o teu ombro com lágrimas salgadas enquanto me abraçavas de encontro a ti - tão perto de ti! - e me afagavas a nuca. As lágrimas que nunca tinha conseguido chorar, não assim. Apesar de não to ter dito, soube o que era o Amor, era isto que tínhamos, o perdoar, apesar da desilusão, apesar da dor que te possa ter causado. Apesar de tudo o que te temia dizer mas que aceitaste tal como aceitas tudo o que faz parte de mim, com um sorriso no rosto. Esse sorriso que eu adoro, de que eu tenho tantas saudades. Começo a ter saudades tuas, ainda estás a meu lado, quando me apercebo que vou ter de me separar de ti de novo. Completas-me. Graças a ti, esses fantasmas não passam disso: fantasmas, inantingíveis, enquanto que eu aqui estou, um corpo firme e, sim, frágil, exposto, mas que se sente com forças suficientes para lutar contra o que quer que venha. Contigo a meu lado. A tua mão na minha.)

segunda-feira, 6 de março de 2006

We are all fools in love

Tocas na tua viola clara músicas com a voz que gostarias de possuir... As notas saem trémulas, desfainadas, cantas ainda com mais força. Vais buscar cd's que ouvias em tempos mais felizes, deitas-te e olhas o tecto branco. As cores são mais vivas, o sol brilha mesmo que esteja por trás de nuvens carregadas de chuva.... Até a chuva seria vista como uma espécie de bênção, estás certa que rodopiarias alegremente acaso te encontrasses com ela neste dia fantástico. Caminhas e subitamente um odor familiar envolve-te os sentidos, inebria-te, eras capaz de jurar que era quele perfume que adoraste desde o início, desde que falaste com ele pela primeira vez, quando ainda não fazias ideia de quem ele era, do que ele seria para ti. Olhas em volta à procura dele. Repreendes-te a ti própria com um sorriso. O que se passa contigo? Só conheces essa pessoa há um... Dois dias. Um dia. Mas parece-te que a conheces desde sempre. Tudo o que sempre quiseste em alguém, encontra-se personificado naquela personalidade, naquele corpo, naquele olhar, naquelas mãos, naquele riso, naqueles lábios tão suaves. Querias que o primeiro beijo fosse perfeito. Sabias no fundo que tal coisa não existe, fora dos contos de fada que costumavas idolatrar quando criança. Não, pensavas que tal coisa não existia. Mas perguntas-te se existirá perfeição para além daquele momento. Não querias que acabasse. Não querias afastar-te, dizer adeus como se fosse o final de algo muito maior que tu. A mão dele na tua. Não o queres largar, ele não te larga, não precisas de dizer nada. Falam com o olhar e tu desvia-lo. Não queres acreditar que finalmente estás assim tão feliz, não imaginas o que terás feito recentemente para receber tal sorte. Sabes dentro de ti o que sentes e não lhe consegues chamar amor, não em voz alta. Falas com os teus amigos, eles sorriem-te e dizem «Estás mesmo apaixonada». Sorris e olhas para o teu reflexo no espelho, achas-te bela. Achas-te feliz. "We are all fools in love"

quinta-feira, 2 de março de 2006

«Boatos»

Fotografia: Black N White, Autor desconhecido
"Rio dos que pensam que podem me prejudicar. Não sabem quem eu sou, não sabem o que eu penso, não podem sequer tocar as coisas que são realmente minhas e com as quais eu vivo." Epictetus
Hoje falo dos elos fracos da cadeia que a sociedade nos obriga a manter. Da ganância, do querer tudo «porque sim». Das aparências que somos obrigados a criar, a fingir, a querer ser - Mas que não somos.
"To be myself completely I will love you just the same"
Ao que consta, as "terrinhas" são locais péssimos para se ter uma má reputação. Mas infelizmente isso sucede em qualquer sítio onde exista um grupo mais ou menos grande. Digamos, uma escola. Um grupo de jovens, ou mesmo o local de trabalho. Uma família. E não digo que exista desde início uma semente de discórdia prestes a rebentar, mas - isso sim - Basta uma pessoa para que de facto tudo seja destruído. Se nenhuma das pessoas do grupo tiver inveja, ciúme... Então, tudo bem. Mas quanto maior o grupo, menor a hipótese de isso acontecer. Obviamente, todos sentimos a nossa quota parte desses sentimentos de que tantas vezes nos envergonhamos.
As "terrinhas" são, ao seu modo, uma pequena família. Passas numa casa para pedir uma informação e a pessoa que abre a porta sabe desenhar praticamente toda a tua árvore geneológica - E as chances de não só estar certa mas da pessoa em questão ter conhecido metade dela são muito altas. E, claro, se se conhecem uns aos outros, falam uns com os outros, desabafam, contam o que ouvem. E, tal como muitas vezes tu fazes, ao ouvir uma frase começada por «ouvi dizer que», essa parte é a modos que esquecida e provavelmente o comentário seguinte será «A sério? Ele/Ela fez isso?» e não(ou muito raramente) «Ah pois mas só ouviste dizer não é? Não aconteceu directamente contigo». Torna-se num dado adquirido. E como "quem conta um conto acrescenta um ponto"... Provavelmente entretanto já não se acrescentou um ponto, acrescentou-se a frase toda, já tão comprida que nem dá para perceber onde é que começou. E não interessa onde começou! Mesmo porque o resto que foi acrescentado a seguir é normalmente muito mais interessante.... Muito mais conveniente, muitas vezes, mais chocante.
"Everybody knows...but no-one's saying nothing And it was a sound so very loud...that no-one can hear"
E basta uma pessoa. Acho que essa é a parte mais doentia. Uma pesssoa. Depois de passar de uma pessoa, difunde-se com uma rapidez impressionante e pronto! Já não se pode fazer nada. A confusão, o caos está instalado. Tu podes nem saber, mas violaste quatro pessoas diferentes, roubaste carros (em datas que não coincidem, será que as pessoas não se perguntam como é que podias estar no Porto e em Lisboa simultaneamente no dia de Natal?) , incendiaste casas e até serias capaz de vender os próprios pais se te dessem bastante dinheiro por eles. Uma vergonha! Quem é que quer estar ao pé de uma pessoa assim? Que má influência serás para os teus conhecidos, para as pessoas que se atrevem a aproximar-se de ti? (As poucas, as mais corajosas)
"And the spies came out of the water,and you're feeling so bad cause you know,that the spies hide out in every corner, But you can't touch them though Cause they're all spies..."
Aos poucos, as pessoas começam a descombinar cafés, a inventar compromissos, ouves alguém a sussurrar nas tuas costas mas nem ligas, não dás por nada e continuas a ser tu próprio. Sentes que há algo que não bate certo mas, o que poderia ser? Deve ser impressão minha, pensas, e continuas a tua vida. Um dia um amigo teu vem ter contigo e pergunta-te, a medo, se ainda te lembras como te sentiste no teu curto mas grande papel como piromaníaco, tu pedes-lhe que explique e ele acaba por te contar a história toda. Primeiro sorris, depois ris. E a seguir não consegues conter o estremecimento das tuas mãos, a raiva que te invade o peito.
"When you think that no one needs you, sees you or believes you No one's there to understand I am "
Tentas descobrir quem disse isso ao teu amigo, ele dá-te pelo menos três nomes diferentes, vais falar com essas pessoas e tens cerca de dois nomes em comum entre os onze que entretanto achavam isso de ti. Desistes quando essas duas pessoas também ouviram de outra pessoa qualquer que tu nem sequer conheces. Mas o mais surpreendente, para além do facto de ninguém te ter dito nada, é terem todos acreditado naquelas informações que são tão claramente falsas. E continuam a acreditar. Lês nos olhos de cada "amigo" com quem falas, o medo, a descrença, como quem diz «Não enganas ninguém, bem que me disseram que tu ias desmentir tudo».
"Night turns to day and I still have these questions,Who just could blame, shall I go forwards or backwards?And not since today and I still get no answers"
Já não confias em ninguém, não sabes quem começou, e o facto de ninguém te ter contado nada também baixa bastante a tua vontade de o fazer. Começas só então a notar nos olhares que te lançam, apercebes-te (ou por vezes chegas apenas a imaginar) que toda a gente à tua volta sabe (Sabe? Sabe o quê? O problema é que não há nada para saber...Mas de qualquer maneira toda a gente sabe mais do que tu) e tens que lutar o triplo para conseguires estar com quem queres. Gastas litros de saliva em conversas infindáveis com o intuito de explicar que não foste tu a fazer o quer que seja que inventaram agora de novo, dás por ti a implorar por uma oportunidade que não deverias sequer ter de pedir. Tentas «limpar o teu nome».
"you don't know and don't ask how I'm going to make it work again"
Enquanto jogas todo este jogo traiçoeiro, em que de alguma forma sabes que não podes pôr nenhum pé em falso, perguntas-te porque terá tudo isto começado. E apercebes-te. Talvez não tenhas dado a demasiadas pessoas exactamente o que elas queriam. Talvez não te tenhas comportado exactamente como todos esperavam. Talvez tenhas resisitido a seguir um padrão que alguém construiu para ti. Talvez tenhas de facto magoado alguém mas, cobarde, sabias que te ias magoar também a ti e afastaste-te sem nada dizer. Talvez alguém sentisse ciúmes. (Ciúmes de quê?, perguntas-te, e de novo as questões fazem eco no teu cérebro cansado) Talvez alguém quisesse algo que não estavas disposto a dar.
"We're just who we are, there's no pretending It takes a while to learn to live in your own skin"
E sabes que se pudesses voltar atrás, terias feito muito (não tudo) da mesma maneira. Talvez tivesses tentado muito mais não magoar ninguém, desta vez. Mas será que isso alguma vez esteve nas tuas mãos? Sabes que agora é muito tarde para pedidos de desculpa. E já não conseguirias pedi-los, de qualquer maneira.
Odeias renegar quem és. Gostas de quem és. Mas sabes que foi isso que te pôs em sarilhos. E apercebes-te que tens à escolha dois caminhos: Ou continuas a ser quem és, altivo, orgulhoso... Ou passas a ser o que toda a gente quer que sejas. Assim, talvez encontres a paz. Não dentro de ti. Nunca dentro de ti. Mas de outra forma... Começarás a duvidar de ti, a rebaixares-te e a perguntar a ti próprio se fizeste de facto alguma coisa. Já não sabes, já não te lembras bem. Já foi há tanto tempo...
"And I wanna hear what you have to say about me I wanna hear what you want What the hell do you want?"
Um grande amigo disse-me «às vezes não há ninguém melhor do que os amigos para nos lembrar de quem somos». Mas se não tivermos esse amigo acabamos eventualmente por nos esquecer. Mesmo porque, de qualquer maneira, seria muito mais fácil.
Não tenho nenhuma moral a expôr aqui. Não cheguei a nenhuma conclusão. Se um dia descobrir, aviso. Há pessoas que dizem «Paga na mesma moeda» Outras dizem «Esquece que aconteceu. Não digo que perdoes, mas esquece. Não vale a pena» Há aquelas (como eu era também) que esperançosas reflectem «Quando crescerem...Há-de passar». Mas isto não é uma questão de idade ou maturidade. É uma questão de índole, de ser ou não ser. Temos de aprender a lidar com isso. Por muito que custe, por muito que «escolhamos» sofrer. (Será que uma pessoa pode escolher uma coisa dessas? As escolhas nao são feitas precisamente em função de isso não acontecer?)
"you don't know and don't ask why I'm going to make it work again"
Não me parece que exista uma maneira correcta ou incorrecta de lidar com estas situações, antes procedimentos menos versáteis, mais cobardes, ou mais egoístas. Mas a verdade é que elas ocorrem. E doem. E hão de ocorrer sempre, porque o ser humano é assim, quanto mais for aprisionado dentro de convenções, ideias pré-definidas, prisões para a mente, mais sente a necessidade de se revoltar, de mostrar que é capaz de muito mais do que parece. Que se quiser pode modificar até a vida de uma pessoa (basta apenas desejar). Temos de ser fortes, para conseguirmos continuar a seguir o que achamos correcto e não aquilo que nos forçam a seguir.
(Mesmo depois de me insultares oculto por essa máscara de porcelana, e virares as costas à minha cara esbofeteada, chamo-te cobarde com voz firme e não há nenhuma lágrima que alguma vez vá verter por ti. Reconheci-te pela tua voz que uma vez me sussurrou ao ouvido e tenho pena da pessoa em que te tornaste - Que talvez sempre tenhas sido, mas que eu nunca quis ver - Apercebo-me da importância que poderei ter tido na tua vida, para que tenhas tentado desequilibrar tanto a minha. E sorrio por não me teres afectado como gostarias. Sorrio por estar aqui. de pé, firme e por me seres tão indiferente. Sorrio por mim e pelo que nunca conseguirás destruir)