quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

Estranho


Por Pedro Gomes, «presa nas riscas2»
Onde está a pessoa com quem partilhei tanto, o que aconteceu à maneira de ser que eu tanto idolatrava? O que fazes tu no lugar dela? Quem és tu, estranho tão sedutor, que me fazes esquecer quem sou? Já não. Nunca mais. Mas muitas vezes embrenhada nesses argumentos me deixei levar, princípios tão convictos e firmes desmoronavam-se à minha frente. Aos poucos esqueci-me de muitos ideais e de um passado que me tinha ensinado tanta coisa. Agora recordei-me, aos poucos encontro o meu rumo de longe. Mas tu, estranho, não me podes devolver o que perdi entretanto. Continuas no teu mundo e não me devolves o que perdi, perdi muito. Perdi alguém que amei(um amor muito particular - mas não será cada amor, um amor único, diferente, lindo à sua maneira, provocando emoções diferentes a cada pessoa, em cada situação?) e que não há-de voltar. Perdi partes de mim,estilhaços que reflectem o brilho do sol ao flutuarem no ar, ao nível dos teus olhos. Tu imóvel, tu estátua de pedra, tu espinhos cravados tão fundo. Tu que ali estás, ali ficas, ali trocista permaneces... Ali gritas por ajuda e eu nem sei se te quero ajudar, eu nem sei se posso. Tropeço, os meus pulsos rasgam-se na calçada, tu gritas ainda mais alto, tu sofres e eu sei que sim, mas dói tanto, o sangue escorre pelos meus braços e eu estendo-te a custo a minha mão, tu afastas-te e eu ali fico. Não me ajudas, não te ajudo. Permanecemos a distâncias consideráveis, olhamo-nos, permanecemos, permanecemos. Até um de nós se cansar, já estamos tão cansados de nos olharmos, estou cansada de te olhar, de me perguntar onde estarás tu realmente e o que restará de ti nessa fachada que criaste. Tu, estranho, tu que não és mais que uma cópia de barata de alguém excepcional.

terça-feira, 13 de dezembro de 2005

Sentir

"Sentir a chuva fria na cara, a areia a escorregar por entre os dedos, o toque da pele, o macio do veludo. Sentir a vida a pulsar, com energia, como se o tempo não chegasse para tudo aquilo que gostaríamos de fazer. Sentir a emoção de um primeiro beijo, a tristeza de ver alguém partir, o medo do escuro, a leveza da felicidade.
Sentir-te, sentir-me, sentimo-nos.
Sentir tudo aquilo que sentimos, porque somos jovens, porque jamais o voltaremos a sentir."

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

Poeta do Dia - Edgar Allan Poe

"It was many and many a year ago,
In a kingdom by the sea,
That a maiden there lived whom you may know
By the name of Annabel Lee;
And this maiden she lived with no other thought
Than to love and be loved by me.

I was a child and she was a child,
In this kingdom by the sea;
But we loved with a love that was more than love-
I and my Annabel Lee;
With a love that the winged seraphs of heaven
Coveted her and me.

And this was the reason that, long ago,
In this kingdom by the sea,
A wind blew out of a cloud, chilling
My beautiful Annabel Lee;
So that her highborn kinsman came
And bore her away from me,
To shut her up in a sepulchre
In this kingdom by the sea.

The angels, not half so happy in heaven,
Went envying her and me-
Yes!- that was the reason
(as all men know,
In this kingdom by the sea)
That the wind came out of the cloud by night,
Chilling and killing my Annabel Lee.

But our love it was stronger by far than the love
Of those who were older than we-
Of many far wiser than we-
And neither the angels in heaven above,
Nor the demons down under the sea,
Can ever dissever my soul from the soul
Of the beautiful Annabel Lee.

For the moon never beams without bringing me dreams
Of the beautiful Annabel Lee;
And the stars never rise but I feel the bright eyes
Of the beautiful Annabel Lee;
And so, all the night-tide, I lie down by the side
Of my darling- my darling- my life and my bride,
In the sepulchre there by the sea,
In her tomb by the sounding sea." Annabel Lee

quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Pois é.. Isto era o que me apetecia hoje

Tirada por mim... Na «Paz de Taizé», no verão de 2004
Quero sentir areia fina debaixo dos meus pés,
Água escorregando pelas palmas das minhas mãos, por todo o meu corpo.
Sentir o sol na minha face,
Sentir a chuva nos meus cabelos,
Quero que o vento me fustigue as bochechas rosadas
(e há-de sussurrar«hei de estar sempre aqui»)
Saltar de uma falésia só para conseguir sentir o coração parar de bater de tão descompassado,
Quero sentir o teu perfume!
Beijar os teus ombros nús,
Passar a minha língua pelo teu pescoço,
Despir-te das saudades que deixaste em mim
Atar-te à minha cintura para que não caias mais nem me deixes a mim desamparada
Quero rir como se por alguma razão descobrisse que a perfeição está nas flores, no fogo, na tempestade,
Manter essa chama por ti que foi esmorecendo
E a ti!, a ti afagar-te tão suavemente que continuarás a dormir sorrindo feliz, embrenhado nesse mundo mágico que é o sonho,
Olhar-te e para sempre não te tocar,
Deixar-te estar no teu canto,
Esse em que tantas vezes nos amámos como se o dia não tivesse fim
Quero chegar ao fim do dia e saber que haverá mais como este
Quero puxar os cobertores para o lado e dormir despida comos e fosse outra noite quente de Verão, enquanto olho pela janela o céu sem estrelas.
Um céu enorme, vazio, imenso, como o mundo que espera por mim.

terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Finge que não

Devagar, aproxima-te de mim. Fala baixinho, murmura palavras apenas perceptíveis por mim. Conta-me de que gostas, o que queres, o que gostavas de ser quando eras pequeno, conta-me algo que nunca contaste a ninguém. Com a tua mão calejada afasta a madeixa de cabelo que me cai constantemente para os olhos, com um meio-sorriso amaldiçoa a minha maneira de ser, a minha existência. Diz que gostas de mim pelo que sou, pelo que te mostrei tão genuinamente que sou. Deixa que eu finja que durmo enquanto olhas pela janela e recordas o que vivemos juntos. Aconchega-me a roupa da cama e beija-me na testa, sem ruído sai e finge que não sabes que estive acordada o tempo todo. Diz-me que não me queres - mas deseja os meus beijos, o meu corpo, refere constantemente como não te agrado mas exibe-me discretamente aos teus amigos. Toma conta de mim. Ama-me! Finge que não, mas... Ama-me.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

De que serve tudo isto?

De que serve tudo isto? A raiva, o ódio, a tristeza que sinto dentro de mim? De que serve este amor por ti que carrego no peito, estes olhares que cruzamos, estas palavras que esquecemos em segundos, estas sensações que não desaparecem nunca. De que serve olhar para ti, desejar-te, estar disposta a tudo e dizer-te ao invés que nunca faria nada por ti, de que serve toda esta entrega quando na hora da verdade nos retraímos, seguimos cada um no seu caminho.
De que serve ter tanto para dar mas não o conseguir fazer a ninguém para além de ti? Tanto que fica guardado cá dentro por te fechares e não me deixares libertar-me de ti?
De que serves tu, de que sirvo eu e tudo o que construímos, destruímos, tentámos reconstruir em sítios já tão remotos? De que serviu tudo até agora? De que serve esta vergonha que agora existe entre nós, todo um passado retalhado, toda uma história que escolhemos recordar o mínimo possível? De que servimos, até agora, nós os dois?