sábado, 5 de novembro de 2005

O que sou eu?

Serei o que como? O que visto? O que beijo, quem beijo, como beijo? Serei linhas lançadas ao calhas por uma página em branco, tintas mescladas em tons vivos que caíram por acaso numa folha branca, que flutuam por céus cinzentos? Serei doce, forte, amarga como fel, suave como seda? Serei braços nos teus ombros, as tuas mãos na minha cintura? Talvez selvagem como a gata que dorme no meu colo... Serei a faísca com que aqueço uma lareira fria, serei riso numa tarde de Verão, água num piscina vazia, sussurro durante a noite ao tentar dormir, gemido tão dócil? serei o olhar no olhar de quem me encontro, o sorriso reflectido em mim? Serei cheiro, odor, perfume? Será que sou o que faço ou o que farei um dia, será que um dia farei de facto alguma coisa? Serei o que leio, serei o conjunto do que vivi ou do que ainda me falta viver? Serei pulsos finos, troncos nús, pernas entrelaçadas, serei engenho inútil sem função em particular, serei dócil, serei eu tão precisa, ou serei eu tão dependente de ti? Serei sombra, luz de que fujo, lábios que deslizaram sem querer pela tua face? Serei eu tanto, serei eu tão pouco, serei eu alguém dentro de alguém, ou sozinha sem saber para onde hei-de ir? Serei apenas os restos. o produto de tudo quanto amei, os retalhos de mim que me foram arrancados aos poucos ou serei apenas o que restou depois de tudo isso? Serei silenciosa dor, sofrido desespero em mim? Será que sou tudo, será que não sou nada, será que sou uma coisa qualquer...

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