Acredito firmemente ter decorado todos os traços desse teu rosto tão comum, enquanto me tratavas como a um espelho, como se estivesses ainda a recitar o que me irias dizer quando me encontrasses. Enquanto ganhavas a coragem para me olhares nos olhos e dizeres "amo-te"
Essas palavras rasgaram-me por dentro, não as devias ter dito. Pedi-te que não dissesses. Mas disseste. Imóvel, fitando-me com olhar de fogo, esperaste
por mim. Esperaste enquanto eu olhava para o vazio, enquanto tentava definir o que sinto por ti. Ainda agora não sei.
Sei que não é amor.
Será que sabes o que é o amor? Eu não sei, mas sei que não é
(não pode ser)
o que sinto por ti. Não pode ser o que sentes por mim. Ou será que pode? Será que podemos amar quem conhecemos uma noite, com quem não partilhámos tanto quanto isso, alguém que não conhecemos? Podemos amar o desconhecido? Será que se te tivesse conhecido uns meses mais tarde,
ou mais cedo,
eu te poderia ter amado a ti também? Porque será que gostei tanto de estar contigo numa noite e na outra só queria fugir de ti?(Por muito que tenha negado esses dois sentimentos opostos, mesmo a mim) Não sei. O que sei nesta história? Quase nada,
sei que não te amo.
E isso parte-te o coração. Uma
e outra vez.
Quantas forem precisas até.. Até o quê, quem, como, quando? Até quando te vais torturar, quantas vezes vou ter de te dizer
que não te amo,
quem me dera a mim amar a sério alguém no tempo real, quem me dera não dar por mim a amar apenas recordações. Quem me dera
amar-te a ti.
Mas o que queres que te faça? Não escolho isso, não sei se tenho a capacidade de amar alguém que me ame a mim, e se eu te disser que para mim isso me afasta, que reprime, me faz repulsa, ou então não, não é exactamente repulsa, mas... Não me digas que me amas,
qualquer dia calo-te com um beijo e arrependo-me para sempre, porque um beijo para mim já não é nada, para ti pode ser tanto e eu já não sei o que é certo. E eu tenho medo de te magoar - Mas tu dizes que não, pisa-me, não me magoas, a sério. Pisa-me com mais força. Isso.
Faz com que essa dor anule a dor que sinto cá dentro, mata-me... Mata-me de prazer, porque não consigo sentir mais nada quando estou contigo,
se vou morrer ao menos que sejas tu, ao menos que seja de amor.
Não durmo, não como....
- Mas eu não te alimento, não te mantenho acordado, não te canto para que adormeças descansado, para que sonhes comigo - Talvez o melhor seja não dormires, quem sabe o que essa mente turtuosa irá inventar, talvez eu e tu num cenário ilusionório mas ao mesmo tempo tão real, acordas e
eu não estou contigo. Nunca estou contigo e tu perguntas-te porquê.
E olhas para o telemóvel esperando pelas mensagens que eu nunca vou mandar, muito simplesmente porque eu sou assim
mas tu não me conheces, tu não me conheces.
Sabes que não, mas mesmo assim tentas adivinhar quem sou. Pensas que sou perfeita, mas as imperfeições comem-me viva,
cada vez descubro mais, mal se dislumbra alguma perfeição no meio de tantos buracos em mim. O branco foi sendo substituído pelo negro e persegue-me, esventra-me a alma tão fraca
e tu não vês nada, iluminado por essa aura estranha que me vais revelando, encontro após encontro. Gosto de ti, fazes-me rir com vontade, fazes-me querer estar onde estou quando estou contigo,
mas isso não é amor.
Disse-te de novo e di-lo-ei quantas vezes forem precisas,
não é amor.
Não insistas nesse teu martírio tão fervorosamente sentido, cada parcela dele, não vale a pena. Sem querer fazer-me passar por algo que não sou - Talvez algumas pessoas valessem a pena, mas não eu. Porque vais desperdiçar tanto comigo,
eu que nunca te hei-de amar,
a não ser um dia quando fores uma memória difusa de alguém que eu poderia ter amado. Ou talvez um dia me convença que te amei e que tu nunca me amaste a mim. Talvez nunca mais me lembre de ti, talvez esta seja uma oportunidade que estou a perder, mais uma na minha vida, deixando escapar tudo por entre os dedos, talvez as coisas fiquem para sempre como estão, e eu serei sempre aquilo que nunca tiveste, nunca poderás ter. Aquela fantasia que utilizas a teu bel-prazer, sempre presente, sempre no algo estranho background da tua vida. Aos poucos ficando mais utópica até não restar nada do pouco de mim que lá está, agora. Saí para o frio escuro da noite, saí
para encontrar o gelo que me envolveu, a minha respiração solidificava à minha frente, se ficasse muito mais tempo o resto do meu coração gelaria ainda mais. Um grande bloco de gelo misturado com ferro, pedra, mármore, gesso... Qualquer coisa que o torne inquebrável,
mesmo que o gelo derreta um dia o resto manter-se-á. Indestrutível, um dia rebentará pelo meu peito, espero que não demore tanto quanto isso, aproximas-te de mim, abraças-me incontrolávelmente,
eu estática,
eu boneco de madeira articulado,
cortaram-me as pernas e os braços e tu carregas-me rua fora. Só me quero esquecer que existo, só quero esquecer que existe alguém no mundo que me ama e não estou tão só como gostaria de estar - sem magoar ninguém,
agora sou responsável por ti porque te cativei.
Mas depois és tu que me levas, sou eu que me encontro a apoiar-me em ti. Porque terá perdido o beijo tanto sentido? Porque será que a simples beleza de dois lábios unidos, corpos apertados, mãos brincando alegremente ora juntas ora separadas, tudo isso é tão banal, tão cliché, tão fora de moda até, porque será que parece já tão falso,
porque será que apetece tanto mesmo assim e me beijaste como se tudo dependesse disso?
Não queria,
não desejava esse beijo que me deste,
que não te dei de volta. Algo me dizia para te apertar, e algo me dizia para te afastar, para te olhar com frieza, para desejar repentinamente ir para casa. Não sei o que fiz.
Sei que não te amo.
Não sei o que é o amor, não sei quem sou, o que faço, não sei quem és tu e o que sentes por mim,
Desculpa-me!,
mas sei que não te amo.
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