quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Reflexos e provações

Fotografia por Alexandre P., «2 ways»
Vejo reflectido em ti um amor que senti apenas uma vez. Uma vez que parece tão distante...Tão incómoda, desnecessária, desperdiçada. O quanto não dava por a desperdiçar toda em ti... É irónica esta dôr que sinto agora, tão forte, tão sincera, tão triste. Esta dôr que troça de mim. Dói-me muito amar-te, especialmente porque sei que podia - Devia - amar-te muito mais, muito mais completamente. É irónico... Agora sou eu que sou responsável por ti, não é? Agora sou eu que não sei bem o que fazer, porque gosto tanto de ti...

Dói-me pensar como penso - Dói-me ter tão pouco controle no que sinto, ao fim e ao cabo já sabia isso, mas só contigo integrei na realidade essa noção. Uma impotência absoluta.

Não tenho palavras para ti, para mim. De justificação. Bem tento, mas não as encontro. Mas o problema é que... elas existem de facto; Eu é que não tenho a coragem para as dizer.

Talvez um dia, espero que breve, essa coragem chegue a mim como por magia. Porque tudo isto se torna pior a cada dia que passa, por muito que te ame, te queira amar, por muito que me ames e mo tentes provar... Tudo isso cai, desfalecido, aos pés do que sinto (que, apesar de já ser muito, não é nada, comparado com o que não consigo sentir...).

sábado, 18 de novembro de 2006

Poema do Dia - Ausência, por Vinicius de Moraes

Fotografia por Graça, « Feelings In The Emptiness»
"Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa

Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir

E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas

Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada."

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Senta-te aqui

Olá, principezinho. Não me catives... Senta-te aqui, mas não me enchas de promessas vãs. Deixa que adivinhe o que penses, o que sentes, deixa-me sonhar sozinha enquanto olho a noite à nosssa volta, eterna, infindável. Deixa-me divagar pelos meus pensamentos, enquanto tu estás ao meu lado, sem me pegares na mão. Nunca me pegues na mão, principezinho, nunca me ames. Nunca peças um desejo a uma estrela. Se queres ficar, parte. Se queres partir, não venhas. E ficaremos ambos bem. Deixa que possamos sorrir ao ver o sol nascer uma vez mais, os reflexos do sol nos teus cabelos dourados, principezinho, e eu nunca mais consegui ver com o coração. Olho-te mas não te vejo, principezinho. Sei que também tu te vais embora. Então, não olhes para trás. Não voltes. E por favor, não me catives. O que restará de mim se me cativares? Quero tanto cativar-te a ti. Mas não, não posso... Porque sei - Por muito que goste de ti - que já não consigo ficar. Tenho medo de nunca mais conseguir ficar...