terça-feira, 20 de junho de 2006

Fuga

Fotografia por Erik Reis, «Pela estrada fora»
Hoje, só quero fugir. Para bem longe daqui. Longe dos erros que cometi, de quem magoei, de quem me magoou a mim. Longe de tudo o que não fui. Tanto que não fui... Tanto que podia ter sido... Quero fugir de quem me ama, de quem me odeia - de quem não sabe bem o que sente. Não quero estar por aqui quando souberem finalmente. Sei que fugir nunca resolveu nada - E então? Se já tentei tudo o resto, e não sobrou grande coisa de mim?
Depois de fugir... Quero não ter de olhar para trás, cortar qualquer amarra, sentir que se desprendem de mim todas as correntes que trazia, caírem assim abandonadas no chão, não quero ser eu nunca mais. Quero conhecer-me como se fosse a primeira vez, o primeiro encontro, o primeiro beijo. Quero descobrir-me. Provavelmente para me desiludir de novo, para não esperar tanto de mim, para não antecipar já tanta decisão, cada erro, cada recaída. Para conseguir sonhar de novo com o coração aos pulos, sorrir com a chuva a bater-me na cara e correr pela estrada fora, simplesmente porque sim...
Diz-me, anjinho, se eu te pedir, foges comigo?

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Pronta para parar de sonhar a preto e branco (já era mais que tempo)

Tiago Phelipe «sonhos com cores»

Apaguei hoje (sim, infelizmente só hoje) as mensagens que me mandaste.
Não porque «teve de ser».
Não porque «não me mereces» (e de facto não mereces :P)
Apenas porque, de repente, não fazia sentido estarem ali.
Não fazia sentido estares aferroado tão profundamente a mim.
«Com licença, preciso do espaço que tens estado a ocupar... para mim»
E pela primeira vez isto parece-me absolutamente natural, razoável, acertado.
Pela primeira vez, vejo-te de uma forma totalmente diferente - muito menos marcante.
Descobri hoje - agora mesmo - que és igual a todos os outros.
E assim serás, a partir de agora.
Dentro de mim terás o mesmo espaço que reservo a tantas outras pessoas que conheci - nenhum, ou muito pouco.
Onde ficarás agora? Nestes textos.
Neste blog que acarinho, que me conforta, que me apoia de uma forma estranha sempre que eu preciso.
Ficarás aqui, mas só aqui. Em mais lado nenhum.
Talvez permaneça, ligeiramente, a tal "ideia" de ti, mas...
Penso que mesmo essa desapareceu, hoje.
Não sobreviveu ao tempo. Sem ti.
Mas eu, sim. Sobrevivi. Ultrapassei. Conseguirei muito mais. Tu és a prova disso.
Hoje, sinto-me forte.
Obrigada, priminha. O que seria eu sem ti? :)
(Também és o meu anjo, que vela algures por mim)
Custou (muito) mas resultou!

Exercício de respiração... Uma pausa nos estudos

Fotografia por Marta, só «sentir»
Inspiro,
Expiro,
Pensando que talvez assim se afaste a dor
Aquela que chega ao mesmo tempo que a tua memória
Esperando que assim consiga concentrar-me em mim
E no meu futuro
E na minha felicidade
E noutra pessoa qualquer - Que não tu
Inspiro,
Expiro,
Alguém me disse que o segredo está em ouvirmos a nossa própria respiração,
Tudo o que oiço é o eco suave das tuas palavras - Ou terão sido minhas?
Já não sei
Nada me traquiliza, eu sei
Inspiro,
Expiro,
Ainda não estou pronta - Mas tenho de estar
Quero tanto estar
Esquecer-me.
Esquecer-me definitivamente.
Recalcar tudo isto para o fundo do meu inconsciente
Para o âmago de algo que tenho em mim e que teima em trazer ao de cima tudo o que tem a ver contigo
Tu, que não me mereces.
Inspiro,
Expiro,
E sei que assim não vou a lado nenhum
Assim, em vez de memorizar Delacroix, Ingres, Goya, Fiissli
A minha memória quase rebenta pelas costuras
Estupidamente cheia
A abarrotar de ti.
Estou farta
Mais que farta
Enojada já pela ideia de ti
Saturada pelos sentimentos que já não me dou ao trabalho de definir há muito tempo
E durante muitos momentos odeio-te, talvez porque seja mais fácil
Mas mesmo assim é demasiado forte
Mesmo assim ocupa demasiado espaço
Demasiada importância
Demasiada tristeza
Inspiro,
Expiro,
E volto ao meu estudo
Já mais calma
Pronta a olhar para o futuro com outro olhar
Pronta a ser eu de novo,
Não apenas outro alguém que abandonaste sem olhar para trás
Não aprendi nada de ti - Apenas a não confiar
E que uma grande paixão vem sempre acompanhada de uma grande dor
(De uma forma bastante proporcional).
Inspiro, expiro. Não me ajuda muito. Mas o facto é que...
Quem poderá arranjar a ajuda necessária para mim, senão eu mesma?
(E nunca mais chegam as férias...)

sexta-feira, 9 de junho de 2006

Poeta do Dia - Pedro Canais



Ameaça

"Um dia vais arrepender-te!

Vou fazer-me explodir em palavras diante de ti
E vamos morrer os dois cravados de sentidos."

segunda-feira, 5 de junho de 2006

(Só mais um) Dia Mau


Fotografia tirada por mim, hoje, «a menina dança?»
Dei-te tudo.
Tudo?
Não.
Dei-me. Isso sim. O mais que púde.
Preciso de mim e já não me tenho.
E vou ganhar-me de volta, seja como fôr.
Por mim.
Pelo que podia ter sido, para que o seja um dia
com outra pessoa.
Para que esse dia seja outro
e outro
e não termine...
Preciso de ti, principezinho,
Dança comigo,
Cativa-me,
E eu prometo que nunca te esquecerei
E a menina, dança?
(um dia mau como a m....)

sábado, 3 de junho de 2006

Poeta do Dia - Núno Júdice

Fotografia por Raquel, «X»
"Quero dizer-te uma coisa simples: a tua ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não magoa, que se limita à alma; mas que não deixa, por isso, de deixar alguns sinais - um peso nos olhos, no lugar da tua imagem, e um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes tivessem roubado o tacto. São estas as formas do amor, podia dizer-te; e acrescentar que as coisas simples também podem ser complicadas, quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade. Porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a realidade aproxima-me de ti, agora que os dias correm mais depressa, e as palavras ficam presas numa refracção de instantes, quando a tua voz me chama de dentro de mim - e me faz responder-te uma coisa simples, como dizer que a tua ausência me dói."
em Pedro Lembrando Inês

quinta-feira, 1 de junho de 2006

Num sítio só teu

Não consigo olhar-te porque não estás aqui. Ficaste nas palavras que permaneceram por dizer, nos meios-sorrisos que nunca chegámos a explicar. Ficaste na incompreensão que foi aumentando entre ambos e em tudo aquilo em que não estávamos mas que preferimos guardar para nós. Cansaste-te do que era simples e ficaste algures, num sítio que já não é nosso, não é meu. Preferiste, algures, um sítio só teu.
Fotografia por Paulo Cesar, «Substância da alma»