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Corre. Esconde-te de mim. Nunca vais conseguir que eu te esqueça. Segue os meus passos, caminha, ajoelha-te no chão que eu piso. Nunca serás meu. Nunca serei tua. Não te quero. As tuas unhas já com tanta sujidade de esgravatares a terra, à procura de algo que te esconda, de algo que dê algum sentido a esta vida arranham-me a pele. Puxa-me os cabelos, grita-me, olha-me enquanto permaneço impávida e serena retribuindo-te o olhar de ódio. Deixa-me. Não quero esse teu corpo. Deixa-me, não quero que saibas quem eu sou. Não quero saber o que queres de mim. Sei que não te consigo dar o que queres. Na inconstante noite que vagarosamente nos vai rodeando, vê-me desvanecer aos poucos, um brilho ténue reflectido nos meus olhos. Uma lágrima cai não sabes de onde, as tuas mãos perdem-se também entretanto. Eu continuo aqui. E tu não me vês. Sorris para o alto, a tua garganta, o teu pescoço hirto, o teu peito peludo. Os teus dentes brancos, longe de serem perfeitos. Eu olho para ti e sei. Olhas para mim e não me vês.